Há cidades que morrem de sucesso

Há cidades que morrem de sucesso. Não sucumbem por falta de talento, de história ou de recursos. Morrem porque não conseguem desaprender o que antes as fez grandes. Tornam-se prisioneiras das suas rotinas, dos seus hábitos, das fórmulas que em tempos garantiram prosperidade. Foi isso que Donald Sull descreveu no seu artigo “Why Good Companies Go Bad” como “active inertia”, a inércia activa das boas organizações que, perante a mudança, reagem acelerando na mesma direcção que as conduz ao abismo. Portimão é o exemplo português mais acabado desse fenómeno: uma cidade que, durante décadas, foi símbolo de progresso, cultura e dinamismo e que hoje se arrasta entre o ruído, a dívida e a nostalgia.

Durante o século XX, Portimão era uma referência no sul do país. O império conserveiro fez da cidade uma potência económica. O cheiro do peixe que chegava ao cais do Arade misturava-se com o som das sirenes das fábricas que empregavam milhares de pessoas. Era uma cidade viva, trabalhadora, onde as mulheres faziam das fábricas de conserva o seu espaço de autonomia e os homens enchiam os barcos que partiam rumo às águas ricas de sardinha e atum. No centro, o Grémio Portimonense era palco de tertúlias, jantares e debates sobre literatura e política. Foi nesse ambiente de efervescência que nasceu Manuel Teixeira Gomes, escritor refinado, diplomata e Presidente da República, um dos poucos intelectuais que souberam unir o país e o mundo. Teixeira Gomes foi o retrato de uma Portimão cosmopolita, europeia e culturalmente viva. Entre os frequentadores desse ambiente encontrava-se também João António Júdice Fialho, um dos maiores industriais conserveiros do país, dono de fábricas, frotas e palacetes — exemplo da elite empreendedora que fez de Portimão um centro de prosperidade e cultura.

Mas o prestígio da cidade não vinha apenas da política e da cultura. A partir dos anos 60, o turismo começou a consolidar o seu papel central e o concelho foi pioneiro. Em 1966 inaugurou-se o Hotel da Penina, o primeiro hotel de cinco estrelas do Algarve e o primeiro campo de golfe do país. O arquiteto John Harris desenhou ali um novo modelo de turismo de qualidade, que atraía diplomatas, empresários e famílias abastadas. Ao longo da Praia da Rocha, ergueram-se casas apalaçadas e chalés modernistas, de varandas largas e jardins voltados ao mar, símbolos de um Algarve elegante e reservado, onde a elite lisboeta passava temporadas de veraneio. A costa de Portimão era o endereço do progresso português. E nos anos 70, quando Portugal se preparava para mudar o destino das colónias, foi em Alvor que se assinaram os Acordos de Independência das antigas possessões africanas. A história do país passou literalmente por Portimão.

A cidade era uma montra do Portugal moderno. Recebia o Grande Prémio de Motonáutica, as elites vinham assistir às corridas no Arade e até o Portimonense viveu o seu auge desportivo, atingindo um notável quarto lugar no campeonato nacional de futebol. Mário Soares passava férias em Alvor e a imprensa internacional falava de Portimão como........

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