Ex-República Independente do Alvor. Episódio II
Agosto de 2032. Um ano depois da secessão relâmpago e da terapêutica visita do porta-aviões e dos capacetes azuis, Alvor voltou ao mapa oficial, mas ficou com uma memória teimosa de liberdade. Agora só os ricos comem peixe do mar. E a verdade ficou parecida com o peixe: só os bem-nascidos a podem ter, fresca e sem porteiro. O euro digital continua a morder no segundo em que a moeda muda de mãos. A carne e o peixe sintéticos enchem prateleiras com embalagens bonitas da Microsoft Foods. Maria Peixeira ainda rosna quando vê a etiqueta. Aprígio Gaitas finge que não lê. Trabalha. Vende. Conta histórias, não confundir com stories, essas já não pode.
O moço fino, o de Moncarapacho, conseguiu o que prometera com voz de veludo. As redes sociais foram proibidas para proteger a verdade. Aprovaram a Lei da Verdade Digital com maioria de gente muito sensata. A televisão do café ganhou o monopólio do barulho. Fala em repeat do Benfica, recorda incessantemente o homem mau que queria ganhar o ignóbil, elogia as virtudes do novo imposto Ê-SÊ-GÊ que aparece na conta como quem traz pão quente. Os vídeos não regulados desapareceram do YouTube. Os podcasts onde Aprígio aprendeu literacia financeira e, por isso, chegou a fazer um PPR ficaram clandestinos. Ensinar a poupar passou a ser pior que contrabando.
Amã, suspira Aprígio. Às quatro e meia carrega a 4L com prata viva a pingar gelo. Antes bastava um story. Sardinha fresca, olho vivo, guelra cor de ouro. Agora, se não........





















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