Le Pen ou a beleza de ver morrer fascistas
As manifestações de júbilo de centenas de esquerdistas em Paris e Marselha, festejando a morte de um velho, quase centenário, não entram, evidentemente, na categoria de “discurso de ódio”. Porquê? Porque o “discurso de ódio” é um exclusivo da Direita. Assim, quando a esquerda bebe, canta, lança foguetes e exibe cartazes celebrando a morte de um qualquer “porco fascista”, neste caso Jean-Marie Le Pen, trata-se de um exercício de ética, de humanismo, de justiça, de defesa da civilização.
E torce-se a biografia do defunto para poder festejar melhor o desaparecimento de um “colaboracionista, de um racista, de um fascista, de um nazi”. E como, nestes casos, a verdade é irrelevante, dispensam-se os polígrafos, até para não deixar passar a oportunidade: quem melhor que Jean-Marie Le Pen para reunir num boneco perfeito todos os pecados mortais, incluindo o do colaboracionismo e o do fascismo?
Ora em Novembro de 1944, aos 16 anos, Jean-Marie Le Pen, o dito “colaboracionista”, apresentou-se ao coronel Henri de La Vaissière, “Valin”, para entrar para a Resistência armada, para as Forces Françaises de l’Interieur; mas o coronel mandou-o embora, dizendo-lhe que só aceitavam como combatentes maiores de 18 anos e que, além disso, ele, Jean-Marie, tendo perdido o pai (um pescador de Trinité-sur-Mer que morrera vítima da explosão de uma mina costeira alemã, em 1942) era “pupilo da nação” e teria de cuidar da mãe. Tal como nunca fora colaboracionista, Le Pen, o “fascista”, também não deixaria de repetir, ao longo da vida, que “não era suficientemente socialista para ser fascista”.
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Jean-Marie estudou primeiro com os jesuítas e depois andou por colégios e liceus, sempre irreverente e indisciplinado. Formou-se na Faculdade de Direito de Paris, onde foi presidente da Associação de Estudantes, e dirigiu o jornal La Basoche. Em 1953, alistou-se no Batalhão de Paraquedistas da Legião Estrangeira, futuro Premier Régiment Parachutiste, e serviu na Indochina, de onde lhe ficaria a grande amizade com Alain Delon.
Na Argélia, os paraquedistas do Premier Régiment Parachutiste estiveram envolvidos na chamada Batalha de Argel, uma operação de contra-guerrilha urbana para combater o terror na cidade, sob as bombas dos independentistas. Acusado de ter estado envolvido na tortura de militantes da Frente de Libertação Nacional (FLN), Le Pen negou ter participado nas torturas mas não deixou de as justificar, dizendo que, quando um........
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