A esperança na humanidade está nos Cuidados Paliativos

Há histórias que nos devolvem a humanidade à velocidade de um gesto. Uma doente internada na Unidade de Cuidados Paliativos da ULS Lezíria pôde, nos seus últimos dias, despedir-se dos seus três cães que não via desde a sua hospitalização. Entraram, encostaram o focinho, reconheceram o cheiro, e por instantes o quarto de hospital deixou de ser um lugar de perda para voltar a ser casa. Para a doente, a visita trouxe conforto e serenidade. Para nós trouxe um lembrete: os Cuidados Paliativos (CP) são, acima de tudo, uma ética do cuidado que reconhece que o fim de vida também é vida.

Depois soubemos mais: alguém acolheu (uma médica da ULS Lezíria) e adotou aqueles animais, garantindo que continuariam bem. Um gesto enorme e que nos lembra que, mesmo quando nada já cura, muito ainda cuida. Esta generosidade adicional acrescenta um pós-escrito luminoso: ainda há esperança na humanidade, e muitas vezes ela habita estes serviços. A cena dos cães não é um detalhe sentimental. É a prova que o sofrimento não se mede apenas em exames. Vive no medo, na ansiedade, no que fica por dizer, nos afetos que dão e trazem sentido. Para aquela doente, ver os seus cães uma última vez era tão clínico como ajustar uma dose de analgesia. E a equipa percebeu isso, abriu espaço, organizou........

© Observador