A Tempestade nas Caraíbas: o conflito entre EUA e Venezuela |
A guerra que se aproxima devagar mas a passo constante
“We’re just going to kill people that are bringing drugs into our country.” A frase saiu da boca de Donald Trump, a 23 de Outubro de 2025, como uma ameaça crua dirigida à Venezuela, e foi recebida pelos EUA como uma promessa de força. Mas, como sempre na política externa americana, o discurso é apenas a superfície. Abaixo dela movem-se interesses financeiros, disputas estratégicas e uma velha tentação imperial: a de derrubar regimes incómodos para garantir acesso privilegiado a recursos valiosos.
A 17 de Novembro de 2025, foi confirmada a chegada do maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, à zona das Caraíbas, onde deverá permanecer até à resolução deste conflito, juntando-se ao USS Jason Dunham, ao USS Gravely e ao USS Iwo Jima, que, com auxílio de aviões de guerra americanos, foram levando a cabo algumas operações, na zona, contra embarcações venezuelanas; e Washington justificou tudo isto com um argumento simples: Caracas estaria a enviar drogas para os Estados Unidos.
Já a 26 de Março de 2020, o governo americano acusou Nicolás Maduro Moros, assim como outros 14 oficiais venezuelanos, de narcoterrorismo, corrupção, tráfico de drogas e outros crimes, pelo que esta interacção já não é nova, mas há um problema: os dados mostram que a Venezuela representa uma fatia mínima do narcotráfico em território americano.
A explicação oficial deixa, então, de encaixar nos factos, e quando as justificações não batem certo, é na economia, e sobretudo no petróleo, que quase sempre está a resposta.
A narrativa da nroga: um pretexto conveniente, não a causa real
Desde 2020 que Washington tenta enquadrar o governo de Nicolás Maduro como um “narco-regime”, tendo chegado a indiciar o próprio presidente por conspirar para “inundar os Estados Unidos com cocaína”. Mas nenhuma dessas acusações se traduziu em prova material conclusiva. Mais ainda: a partir de relatórios anuais do Departamento de Estado e da DEA, torna-se evidente que a Venezuela deixou de ser, desde meados da década de 2010, uma rota significativa do tráfico internacional (o verdadeiro problema é a Colômbia, através de rotas no Pacífico ou América Central). Mesmo assim, Trump decidiu regressar a essa narrativa, agora, com ainda mais intensidade.
A mobilização militar, nas Caraíbas, não corresponde ao padrão típico de uma operação anti-narcóticos (menos ainda sem qualquer operação, de escala semelhante, com a Colômbia, que partilha, também, fronteira com o mar das Caraíbas). O destacamento de um porta-aviões nuclear, USS Gerald R. Ford, que alberga os F-18 Super Hornet ou os Lockheed Martin F-35 Lightning II, o apoio de contratorpedeiros como o USS Jason Dunham e o USS Gravely e de aviões e helicópteros de patrulha marítima, aponta para algo maior, algo que ultrapassa, em muito, o combate a pequenos carregamentos de droga.
O discurso sobre narcotráfico funciona, aqui, tal como........