Nem “só” de 150 horas extra se faz um médico
Há já alguns anos que tomei uma resolução pivotal na minha vida: a de não dar tempo de antena a absurdidades. Contudo, confesso que o texto que se segue é uma assumida resposta a uma das últimas que tive o desprazer de testemunhar, nomeadamente a opinião e resolução de um cronista determinado a recusar ser atendido por um médico que “só” queira fazer 150 horas extraordinárias. Debati se sequer devia satisfazer a sede de notoriedade e a declarada necessidade do referido cronista em cortejar a polémica mas, nos tempos que correm, é cada vez mais importante combater com factos a desinformação que tem por objectivo exaltar e atiçar ânimos sem os melhores interesses da sociedade em vista e que não presta nenhum serviço à mesma.
Vou apelar ao meu argumento de autoridade nesta matéria. Sou médica e faço formação médica no âmbito do meu internato de especialidade. Depois de 6 anos de estudo na faculdade de medicina, um ano de formação geral e 5 anos de formação em especialidade penso que estou autorizada a dizer que sei um pouquinho melhor que o dito cronista aquilo que diferencia um médico medíocre de um bom médico. Por outro lado, tenho também o benefício da experiência internacional, visto que a duração do meu internato médico tem sido passada na Alemanha.
Ora, pasme-se que, em terras germânicas, não é hábito fazerem-se as referidas 150 horas extraordinárias quando se exerce medicina. Pode acontecer que sejam feitas menos, que sejam feitas mais, mas, acima de tudo, aquilo que há muito tempo se tornou em Portugal natural é visto noutro país da Europa como uma aberração não desejada. Significa isto........
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