A culpa coletiva é Meo
Antes de mais, quero dizer que numa sociedade liberal todas as pessoas devem ser integradas independentemente da sua religião ou filosofia de vida, desde, claro está, que respeitem a lei e a cultura de quem os recebe.
O anúncio de Natal da empresa de telecomunicações MEO, utiliza o suposto sentimento de culpa ocidental pela marginalização de outras culturas. Basicamente o vídeo descreve uma situação em que um pai islamofóbico, acaba a ser ajudado por um casal muçulmano depois de se ter esquecido de ir buscar a filha à escola. É muito curioso que a parte má do filme publicitário seja um homem branco, cristão, com uma idade entre os 30 e 40 anos. Ou seja, aquele tipo de pessoa que pode encarnar todos os defeitos da humanidade, sem que isso suscite algum tipo de polémica. A esposa do homem islamofóbico, é retratada como uma mulher que chega tarde a casa do trabalho e perante o esquecimento do marido, que estava em casa sem fazer nada, é ela quem acaba por agradecer ao casal muçulmano o facto de eles terem tomado conta da filha, até à sua chegada. É claro que uma mulher não podia ser a má da fita de um filme publicitário, isso seria politicamente incorreto. Seria também impensável que um velho, um jovem ou alguém com cor de pele que não fosse branca, pudesse encarnar o mal
O problema do anúncio da MEO não é o de querer combater o racismo e xenofobia, o que me causa repúdio é o facto de a ideia subjacente a este filme ser totalmente falsa. É verdade que em Portugal como em todas as democracias liberais, existem situações de racismo e xenofobia. Mas também não é menos verdade que uma imensa maioria silenciosa aceita a diferença. Até mesmo os mais conservadores ao serem confrontados com a realidade, acabam por aceitar a presença de emigrantes, o que os distingue dos extremistas. Por muito que queiram passar essa imagem, dentro de cada homem europeu não vive um Anders Behring Breivik. Na grande maioria dos casos dos homicídios com motivações raciais ou culturais, os homens europeus como o retratado no anúncio da Meo são as vítimas. A Meo podia ter feito um filme publicitário que apelasse à sã convivência dos povos e das culturas, sem criar um anátema sobre uma das partes? Podia, mas não era a mesma........
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