Se há momentos na sociedade portuguesa em que se fala imenso de Saúde, esses podem ser resumidos a dois: quando a falta de assistência a um cidadão origina a sua morte ou incapacidade grave ou, periodicamente, quando as eleições que se avizinham e todos os partidos e candidatos prometem soluções para tudo, muitas vezes demagógicas e populistas, e que após o voto cair na urna, tudo esquecem! Vejamos a questão dos cuidados de proximidade, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, porta de entrada, por excelência, do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Se há desigualdade de tratamento e injustiça é neste quadrante. Para o cidadão leigo, é importante esclarecer e dar a conhecer que desde que a reforma dos cuidados de saúde primários foi instituída em 2005, existem profissionais de saúde de primeira e de segunda classe! A criação de unidades de saúde familiar (USF), onde a proximidade entre o profissional de saúde e o cidadão, a família e a comunidade foi, sem dúvida, um marco nesta reforma. No entanto, por um lado, os profissionais das USF modelo B que recebem incentivos de desempenho, no final do mês, pelo trabalho meritório que realizam na procura de uma melhor saúde para os portugueses; por outro, os profissionais que nada recebem, pois, os diversos responsáveis políticos ao longo destes anos, assim consideraram que não deveriam receber, embora façam o mesmo (quase sempre com menos recursos) e contribuam com o seu esforço para a saúde de todos! Falo dos profissionais que trabalham nas unidades de cuidados à comunidade (UCC). Quer dizer, num momento em que os agentes das forças de autoridade (PSP e GNR) contestam a falta de um subsídio de risco, comparando-se aos seus colegas da Polícia Judiciária que o recebem, com tanto alarido social e mediático, é caso para questionar por que razão esta injustiça nas UCC, que decorre desde há cerca de 18 anos, ainda se mantém? Será que o trabalho que estes profissionais de saúde desenvolvem, sete dias por semana, ao longo de todo o ano, com provas dadas na promoção da saúde, poupando aos cofres do Estado no gasto no tratamento da doença, não é suficiente? Estes profissionais trabalham na prevenção de sobrecarga e acompanhamento daqueles que cuidam do seu familiar doente em casa (cuidador informal), na reabilitação respiratória, na gestão da doença crónica, no acompanhamento das grávidas ao longo da gravidez e no pós-parto, na intervenção em saúde escolar, entre muitos outros projetos e programas. Num momento em que tantos profissionais saem do SNS, é fundamental rever políticas de saúde para que se volte a acreditar que vale a pena investir no sonho de abril. Acredito que o mais certo será que estes profissionais das UCC dispam a sua farda e vão para a escadaria da Assembleia da República, deixando as pessoas que deles necessitam ao cuidado desses políticos que, de justiça, humanidade e respeito nada sabem! Que Deus os livre de tal fado…

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Que Deus os livre de tal fado…

Que Deus os livre de tal fado…

Se há momentos na sociedade portuguesa em que se fala imenso de Saúde, esses podem ser resumidos a dois: quando a falta de assistência a um cidadão origina a sua morte ou incapacidade grave ou, periodicamente, quando as eleições que se avizinham e todos os partidos e candidatos prometem soluções para tudo, muitas vezes demagógicas e populistas, e que após o voto cair na urna, tudo esquecem! Vejamos a questão dos cuidados de proximidade, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, porta de entrada, por excelência, do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Se há desigualdade de tratamento e injustiça é neste quadrante. Para o cidadão leigo, é importante esclarecer e dar a conhecer que desde que a reforma dos cuidados de saúde primários foi instituída........

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