Eu, político, desafio os jornalistas
Os mais velhos lembram-se do tempo que era impensável um autocarro [camioneta, carreira ou machimbombo] sem cobrador, o mediador entre o motorista, que o tinha de conduzir, e os passageiros, que tinham de chegar ao destino. Entretanto, a figura desapareceu e é difícil as novas gerações conceberem que entre os cobradores de autocarro havia figuras carismáticas ou sequer a razão de ser da profissão.
Nos dias que correm, o jornalista – mediador entre o poder (o governo que conduz) e o povo (que viaja rumo ao destino coletivo) – segue o mesmo fado. Se o cobrador de autocarro foi engolido pelas transformações tecnológicas e económicas, no jornalista esses fatores resultantes da expansão das redes sociais não são significativos. O que conta foi a subversão da profissão pelos próprios jornalistas em nome da divina Esquerda-Alá, a versão ocidental da jihad ou guerra santa.
No coração da razão de ser jornalista está a gestão social da linguagem, isto é, da palavra. O valor desta é diretamente proporcional à sua capacidade de explicar objetos, factos, situações da vida vivida. É isso que orienta indivíduos e coletivos na relação com o seu meio envolvente de modo a garantir-lhes segurança, tranquilidade, prosperidade. Em sentido inverso, a linguagem torna-se uma ameaça para o ser humano quando as palavras abandonam a realidade para explicarem outras palavras, quando as palavras funcionam em circuito fechado delas para elas, como explicava Olavo de Carvalho.
Foi assim que o jornalista político transformou a linguagem em arma socialmente destrutiva. É nele que o Governo AD/PSD, de Luís Montenegro, só em 2025 vai enterrar mais 80 milhões de euros dos impostos portugueses. A decisão é bem pior do que suborno, é insistir em arrastar uma sociedade inteira para a alienação, insanidade mental, inviabilidade. Neste contexto, não concebo um político consciente e socialmente responsável que não esteja disponível a travar uma guerra franca, honesta, de argumentos contra o jornalista enquanto figura social.
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Na primeira etapa da sua lógica mental, o jornalista limita-se a ouvir ou a perguntar ao presidente da república, primeiro-ministro, ministros ou governantes de um dado setor – saúde, justiça, ensino, administração interna, economia, finanças, defesa, entre outros – sobre o estado da governação e do país. Regista estarem no bom caminho, estarem a ser tomadas medidas ou implementadas as reformas necessárias; regista estar a ser cumprido o prometido aos eleitores e o planificado pelos governantes; regista que o país não funciona melhor por culpa da oposição. Esta é a única etapa limpa da relação entre o poder e o jornalista.
O regime anda há décadas a conceder ao jornalista político carta-branca para saltar a que deveria ser a segunda etapa da sua construção mental, a mais importante de todas na validação do conteúdo moral, racional, social da linguagem do interlocutor político, mas........
© Observador
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