“Sentia-me um robô” - o testemunho de um filho alienado

Há testemunhos individuais que são retratos incómodos de realidades que persistem à margem do olhar público. O testemunho de João (nome fictício), um jovem no início da adolescência, é um desses casos. Nele, não encontramos apenas a história de um filho no meio de um conflito parental, mas o retrato de uma infância progressivamente aprisionada por dinâmicas de alienação, controlo emocional e perda de autonomia.

Ao longo do seu relato, o João descreve como foi sendo colocado no centro de um conflito que não lhe pertencia, assumindo responsabilidades emocionais e comportamentais incompatíveis com a sua idade. Em vez de ser protegido do confronto entre adultos, foi transformado num elemento funcional desse mesmo confronto, vivendo dentro de uma verdadeira “bolha” de alienação. As suas palavras revelam a sujeição a um processo contínuo de influência psicológica, onde as escolhas, os sentimentos e os comportamentos deixaram de ser seus.

“Era influenciado pela minha mãe, pela minha avó e pelo meu avô… era influenciado a dizer mentiras, a fazer certas atitudes… e também a não fazer o que me diziam. Era como se me dissessem uma coisa, mas depois eu tinha de fazer outra. Isso também ficou marcado” .

No testemunho do João encontramos o exemplo de um padrão de repetição constante de ordens, sugestões e expectativas externas, da família materna alienadora, que acabaram por moldar o seu comportamento, até à “automatização”. João descreve essa condição de uma forma crua e inequívoca: “Não é porque estava influenciado… era um robô. Aquilo já era automático, já fazia. Diziam tantas vezes que, às vezes, já nem era preciso dizer”. Quando um adolescente passa ter a sua vida gerida desta forma, deixa de agir a partir do que sente e passa a responder a........

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