Um mundo sem espelhos

Será que a maioria das pessoas gosta da vida que tem ou daquilo que é? Não será que, quando não ousa fazer essa pergunta, não o faz para não ter de se confrontar com respostas com que se magoe, como se cada uma delas não representasse uma porta que se abre para que se vá do conhecimento de si ao gostar de si?

Parece-me que é por fugirmos de reconhecer aquilo de que não gostamos que são poucas as vezes em que paramos e meditamos sobre nós (que será a forma mais próxima de nos vermos “ao espelho” que temos à mão). E que é também por medo que perguntamos pouco se gostamos daquilo que somos. Mesmo que só isso faça logo diferença para sermos melhores.

Às vezes, tenho a impressão que o “se eu não gostar de mim quem é que gosta?”, que se escuta a torto e a direito, traz uma aragem um bocadinho perversa. Porque convida a um gostar impostor, de fora para dentro, mais epidérmico que profundo, como se a transformação humana se fizesse iludindo........

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