Que se invente o pai

O pai e os filhos são próximos. Enraizadamente próximos! Brincam. Brigam. São inimitáveis quanto se trata de deixarem um rasto de alvoroço, depois de cozinharem. Mas quando, nos fins de semana, se sentam à volta dum filme, enquanto o pai dorme e eles se arrepiam, todos sabem que o pai é tão forte que até a dormir os protege dos medos.

Por causa de uma espécie de pudor silencioso, pai e filhos falam pouco das entranhas do que sentem. Das reticências que os separam. Das falhas pequeninas que guardam para si e só sussurram. E a vida deles, por mais que a dividam num montão movimentado de momentos, deixa-se acompanhar por brumas pequeninas que, de forma levemente emaranhada, eles dividem vida adentro. Pai e filhos gritam por um golo. Repartem-se entre histórias e historietas. Trocam abraços. Mas parece existir uma espécie de presságio esquisito que leva a que os filhos, quando crescem, acabem a queixar-se aos bocadinhos das faltas de um pai. Que faz com que não o cuidem com a delicadeza duma flor colorida ou dum pássaro que reclame cortesia. O que leva a que o pai, talvez porque faça de conta que........

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