Ao contrário do que aconteceu nas Legislativas de 2015, quando o derrotado António Costa apareceu eufórico, na noite eleitoral, para surpresa das suas “tropas” cabisbaixas, Pedro Nuno Santos nem esperou pelos resultados da emigração — que devem ser conhecidos depois de amanhã –, para felicitar Luís Montenegro e declarar-se na oposição ao futuro governo da AD.
Fê-lo, aliás, aparentando uma retemperada energia, liberto do acabrunhamento que o acompanhou quase sempre em campanha, com desgosto dos fiéis que nem queriam acreditar no que ouviam. Foi um dos momentos mais reveladores da noite eleitoral e um dos mais conseguidos de Pedro Nuno.
Parecida com tal urgência só a de Paulo Raimundo que, antes mesmo de haver um novo governo e de serem apresentados os contornos do seu programa, se apressou a anunciar um voto de rejeição, com os quatro deputados que lhe restam na bancada parlamentar. Não aprendeu nada. Nem o PCP com ele, a caminho da extinção, seguindo, embora tardiamente, o ocaso dos seus mais afamados congéneres europeus.
Neste novo jogo, no qual mergulharam as esquerdas perante a derrocada das Legislativas, foi divertido observar a prosápia de Mariana Mortágua ao “convocar” uma “cimeira de vencidos”, a pretexto de definir uma estratégia para “salvação“ das conquistas alcançadas e encontrar “convergências” que sirvam para “construir uma alternativa”.
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Entre essas “ameaças” — convirá não esquecer – deverão figurar a famigerada lei do género ou das casas de banho nas escolas, a obrigatoriedade de frequência das aulas de cidadania para pregar a escolha do sexo, ou a eutanásia.
O crescimento exponencial do Chega, beneficiário activo da promoção desencadeada pelo PS, com o apoio das esquerdas radicais – e, em especial, de Augusto Santos Silva, a partir da presidência parlamentar — obteve, contudo, uma expressão muito superior àquela que os “feiticeiros” do regime pretendiam.
E nem os gurus que se gabavam de terem “fabricado” a anterior maioria absoluta socialista deram cara, para explicarem a votação alcançada por André Ventura, com dimensão nacional e particular relevo no Algarve.
Aflitos, os comentadores residentes nas televisões, bem como os especialistas em sondagens, debateram-se entre o dilema de encobrirem o fracasso das suas previsões e a invenção de um culpado para a sua desventura.
Como não podem chamar “fascistas”, “reacionários”, “racistas”, “xenófobos“ e outros mimos do seu arsenal, a mais de um milhão e cem mil portugueses que escolheram o Chega no boletim de voto, as esquerdas ensaiam, em conjunto, uma coreografia pouco imaginativa, cujo argumento repousa na “democracia ameaçada“.
Curiosamente, quando o PCP e o Bloco animaram a “geringonça”, ninguém os tratou como partidos antidemocráticos – embora na sua génese programática estejam perto disso -, nem houve quem exprimisse o receio de que a democracia estivesse comprometida.
Lesto, o Público escrevia há dias que “as ameaças à democracia já entraram no rol de medos sobre o futuro”, enquanto no mesmo jornal Augusto Santos Silva — um dos piores presidentes da Assembleia da República, se não mesmo o pior depois de Ferro Rodrigues, uma proeza — veio agora defender, num “artigo de opinião”, que não se devem hostilizar os eleitores do Chega, algo que é uma heresia para quem se distinguiu pela falta de imparcialidade na condução dos trabalhos parlamentares, ao conflituar, em permanência, com André Ventura.
Desmemoriado, Santos Silva teve ainda o desplante de dizer esperar que Luís Montenegro “saiba vencer, não desbaratando a situação orçamental (que tanto nos custou, a todos, conseguir)”.
A frase só poderá ser lida como uma piada de mau gosto, vinda de quem participou como ministro, em 2011, no governo liderado por Sócrates, que conduziu o País à beira da bancarrota, forçado a pedir a assistência da troika com a consequente austeridade, bem sentida na pele pelos portugueses.
Note-se que Santos Silva, além de ministro, era também membro activo do núcleo político duro bem próximo de Sócrates, chegando ao ponto de criticar asperamente o então Presidente da República, Cavaco Silva, por este nunca ter condecorado o ex-primeiro ministro.
Ficou, aliás, célebre a mensagem que colocou no Facebook, dirigida a Cavaco, na qual lhe “pedia” para não condecorar Sócrates, porque “ele não merece tamanha nódoa no seu currículo”…
De um dia para o outro, André Ventura dispensou os “bons ofícios” de Santos Silva na carinhosa cruzada que lhe dedicou, e divertiu-se a construir cenários de curto prazo, caso o Chega não faça parte do elenco governativo, o que em boa verdade não lhe interessa, salvo para alimentar a retórica de combate que lhe rendeu tão bons frutos.
Se quisesse seguir os ensinamentos de António Costa quando, ágil, subiu ao muro em 2015 e “tocou a reunir” as esquerdas radicais comunistas para uma “geringonça” salvadora, Luís Montenegro mandava “às malvas” as “linhas vermelhas” que o armadilharam e chamava o Chega a fazer parte da solução, em vez de tê-lo à perna, revigorado com a votação alcançada.
Com esse gesto, facilmente classificável como realista e pragmático, até com base em bons argumentos europeus, Montenegro conseguia uma maioria absoluta parlamentar de suporte do governo, afastava as esquerdas do poder por uns tempos, tinha espaço para respirar fundo, e obtinha a estabilidade tão apregoada pela anterior “geringonca”.
A sua vitória por “poucochinho” ficaria alavancada, com larga folga, e com isso calava o “partido de protesto“ em que o Chega se transformou. Convenhamos que seria tentador.
Mas Montenegro não tem esse perfil e não quer “dar o dito por não dito”, o que servirá às esquerdas de alívio para se reagruparem à volta de Mortágua, que embora não tenha recuperado nenhum assento parlamentar, entre os que foram perdidos pelo Bloco em 2022, tem a manifesta ambição de ser um polo aglutinador, sem se perceber porquê. E não lhe faltam apoios e seguidores na ala mais à esquerda do PS, liderada há muito por Pedro Nuno.
É certo que Montenegro reafirmou em campanha que “não é não”, algo que foi sofregamente aproveitado pelos comentadores de serviço, o que nunca foi dito por António Costa, nas mesmas circunstâncias, antes de fazer “contas de cabeça” e concluir que a soma aritmética de socialistas e comunistas lhe dava a maioria.
Chamou-se, nessa altura, ao gesto “redentor” de Costa uma sábia decisão no sentido de implicar a extrema esquerda no sistema, para não haver excluídos em democracia.
Logo no Congresso socialista de 2016, Costa sustentou que “um PS capturado, refém da direita, é um PS que não cumpre a sua missão histórica em Portugal”, rejeitando o “artifício do arco da governação”.
A entorse valeu-lhe, como se sabe, quatro anos de bem-aventurança política, tratada como se fosse uma genialidade, com um apreciável “jogo de cintura”.
Embora o PCP e o Bloco nunca tenham sido vistos como partidos antissistema – não obstante serem defensores de ditaduras e contrários à NATO, ao euro ou, até, à União Europeia –, Costa não hesitou em envolvê-los na órbita do poder , como se fossem falsos os argumentos de quem invocava a história e os princípios fundadores do PS para lamentar essa opção, ao arrepio do passado e das melhores práticas políticas socialistas.
Num ponto os críticos de Costa não tiveram razão: é que, graças à “geringonça”, o PS quase que liquidou o PCP e o Bloco.
Sem dúvida, uma lição que Montenegro poderia aproveitar à direita, com a vantagem do Chega não ser anti-NATO nem anti-euro, liderado por um ex-militante do PSD, que muito cedo se revelou inconformado com comportamentos radicais de minorias activas.
Se for primeiro ministro, Montenegro precisará de uma sólida blindagem para enfrentar o novo tripartidarismo que Ventura não se cansou de invocar.
Mas não só. Segundo se percebeu ultimamente, o governo ainda em funções descurou o cumprimento das condições implícitas para receber os cheques de Bruxelas, e acordadas no quadro do famoso PRR, o que é ainda, em certos aspectos, uma nebulosa.
De facto, segundo o Expresso, os desembolsos dos fundos do PRR só são libertados com o cumprimento de determinados objectivos, e, apesar de alguma flexibilidade da Comissão Europeia, há mínimos que têm de ser atingidos. Quem diria.
Tudo indica, portanto, que quando o novo governo tomar posse, presumivelmente nos últimos dias do mês, espera-o um “contra-relógio” para resolver algumas pendências com Bruxelas.
Um “bico de obra” que Costa e Mariana Vieira da Silva “empurraram com a barriga”. E que tem sido escamoteado da opinião pública. Desleixo, negligência ou estratégia? Adiante se verá. Montenegro e a AD que se cuidem…
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Fê-lo, aliás, aparentando uma retemperada energia, liberto do acabrunhamento que o acompanhou quase sempre em campanha, com desgosto dos fiéis que nem queriam acreditar no que ouviam. Foi um dos momentos mais reveladores da noite eleitoral e um dos mais conseguidos de Pedro Nuno.
Parecida com tal urgência só a de Paulo Raimundo que, antes mesmo de haver um novo governo e de serem apresentados os contornos do seu programa, se apressou a anunciar um voto de rejeição, com os quatro deputados que lhe restam na bancada parlamentar. Não aprendeu nada. Nem o PCP com ele, a caminho da extinção, seguindo, embora tardiamente, o ocaso dos seus mais afamados congéneres europeus.
Neste novo jogo, no qual mergulharam as esquerdas perante a derrocada das Legislativas, foi divertido observar a prosápia de Mariana Mortágua ao “convocar” uma “cimeira de vencidos”, a pretexto de definir uma estratégia para “salvação“ das conquistas alcançadas e encontrar “convergências” que sirvam para “construir uma alternativa”.
Entre essas “ameaças” — convirá não esquecer – deverão figurar a famigerada lei do género ou das casas de banho nas escolas, a obrigatoriedade de frequência das aulas de cidadania para pregar a escolha do sexo, ou a eutanásia.
E nem os gurus que se gabavam de terem “fabricado” a anterior maioria absoluta socialista deram cara, para explicarem a votação alcançada por André Ventura, com dimensão nacional e particular relevo no Algarve.
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