A Invisibilidade da Cultura na Agenda 2030 |
Repensar o Desenvolvimento
O relatório global da UNESCO intitulado Culture: The Missing SDG – Global Report on Cultural Policies (2025) representa um marco na reflexão contemporânea sobre o papel da cultura relativamente ao desenvolvimento sustentável. Resultante de um extenso levantamento de dados – mais de mil e duzentos relatórios nacionais e locais, duzentos estudos de caso e amplas consultas intergovernamentais –, o documento oferece o retrato mais abrangente das políticas culturais, em vigor, a nível mundial. A sua premissa central é inequívoca: sem cultura não há desenvolvimento sustentável. A cultura é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável “em falta”, a dimensão esquecida, sendo embora essencial, da Agenda 2030 das Nações Unidas.
Ao longo das últimas décadas, a cultura foi sendo reconhecida, implicitamente, como componente transversal do desenvolvimento humano, associada à educação, à inovação e à coesão social, mas raramente tratada como um fim em si mesma. A Agenda 2030, com os seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), não contempla um objetivo dedicado à cultura, relegando-a para um estatuto instrumental e marginal. A UNESCO procura, com este relatório, corrigir essa lacuna, propondo a criação de um ODS autónomo para a cultura no quadro pós-2030, dotado de metas, de indicadores e de financiamento próprios. O propósito é garantir não apenas visibilidade política, mas também o reconhecimento da cultura enquanto infraestrutura vital das sociedades humanas, motor de diversidade, criatividade e sustentabilidade.
O Relatório Global UNESCO 2025 sobre Políticas Culturais
Os dados apresentados são elucidativos. Em 2025, 93 % dos Estados-Membros da UNESCO já integravam a cultura nos seus planos de desenvolvimento sustentável, uma progressão face aos 88 % registados em 2021. Esta tendência revela um crescente reconhecimento político, mas a UNESCO alerta para a distância entre a inclusão formal e a implementação efectiva. Em muitas regiões, as estratégias culturais carecem de meios financeiros e institucionais adequados. As disparidades de investimento são profundas: a despesa pública per capita em cultura na Europa e na América do Norte é treze vezes superior à média global. Estas assimetrias comprometem o princípio da diversidade cultural e reforçam a dependência financeira do Sul Global, onde as políticas culturais continuam vulneráveis à volatilidade económica e........