Da professora na fila ao TIMSS 2023
Confesso que, por hábito, não utilizo o Refeitório nem o Bar da minha escola. Sei, por outros, que a comida é excelente. Também sei que a minha escola já foi distinguida com vários prémios de alimentação saudável e que é a única em Lisboa em que os almoços são confecionados internamente, por funcionárias com dedicação notável à confeção aprimorada das refeições. Fico muito satisfeito, diria quase orgulhoso, por saber que lhe são atribuídas tais distinções.
Acabei de deixar um elogio à qualidade dos produtos servidos, mas quero registar também a desadequada mentalidade que superintende o atendimento de alunos e professores, que radica numa ideologia que devia estar ultrapassada. Há alguns dias, fiquei pasmado com um relato de uma situação ocorrida no Bar. A professora Luísa estava muito aborrecida a queixar-se de que, quando estava na fila para ser atendida no Bar, por norma muito extensa, deu conta de vários alunos a “meter conversa” com colegas que estavam mais à frente, para se encaixarem sub-repticiamente, conseguindo passar à frente dos mais cumpridores. Qualquer pessoa que frequente uma escola do ensino básico e secundário (ou mesmo do superior) reconhece com facilidade a situação descrita. A professora Luísa reclamou, os alunos fizeram-se desentendidos, o pequeno intervalo passou e a professora Luísa teve de seguir para a aula seguinte sem tomar o seu cafezinho.
Veio-me logo à memória um poema batido, do meu querido António Gedeão, que me permito adaptar.
Luísa sobe/ sobe a escada/ sobe e não pode/ que vai cansada. Sobe, Luísa/ Luísa, sobe/ sobe que sobe/ sobe a escada/ vai dar uma aula/ desencantada.
Saiu de casa/ de madrugada/ regressa a casa/ é já noite fechada. Na mão tão fina/ de pele lustrada/ leva a mala/ desengonçada. Anda, Luísa/ Luísa, sobe/ sobe que sobe/ sobe a escada.
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Luísa não é nova/ mas é desenxovalhada/ ferve-lhe o sangue/ de afogueada/ salta os degraus/ na caminhada. Anda, Luísa/ Luísa, sobe/ sobe que sobe/ sobe a escada/ que a aula é no terceiro piso/ à hora marcada. Passam alunos/ aos encontrões/ fixados nos ecrãs/ nem nela reparam/ nem dão por nada.
Chegou a casa/ muito cansada/ não disse nada. Tratou da sopa/ numa golada/ lavou a loiça/ fez um PowerPoint/ escreveu sumários/ não viu trabalhos/ deitou-se à pressa/ desinteressada/ adormeceu sem dar por nada. Sonhou que sobe/ sobe que sobe/ sobe a escada.
Na........© Observador
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