O 25 de Novembro não é consensual, e então?!

A respeito do 25 de novembro de 1975 avolumam-se os equívocos sobre a relação entre história, memória e política. Foquemos dois: o valor a dar ao testemunho dos protagonistas e o aproveitamento político do passado.

A História, como estudo do passado, exige distância crítica dos protagonistas e o cruzar de múltiplos testemunhos, fontes, factos. Relativamente a um evento politicamente tão divisivo como o 25 de novembro é, por exemplo, indispensável ouvir protagonistas com diferentes simpatias políticas. Claro que percebo que num curto artigo ou coluna de jornal isso é difícil. Claro que com isto não estou a desvalorizar a voz dos protagonistas. É interessante perceber como Sousa e Castro – um dos Nove oficiais de esquerda, moderados apenas no contexto do PREC, e grandes protagonistas do 25 novembro – vê hoje essa data e a respetiva comemoração. Fica claro que não gosta do atual governo nem da comemoração que organizou, como é seu direito. Mas não há donos da memória coletiva ou da história, ninguém tem uma palavra definitiva sobre um evento tão complexo, com tantos protagonistas.

Sousa e Castro, por exemplo, diz que o 25 de novembro não teve grande importância e a vitória dos moderados era certa. Mas Melo Antunes, outro dos Nove e o autor do famoso documento que lhes deu essa “alcunha”, testemunhou que “no 25 de novembro as coisas estiveram muito tremidas […] os equilíbrios militares eram muito precários”. Por exemplo, Sousa e Castro afirma que não houve qualquer risco de guerra civil. Mas, como refere, outra figura central neste período, Mário Soares, achou que sim. Tanto assim que se planeou seriamente a transferência do governo, do parlamento, do ouro do Banco de Portugal de Lisboa para o Porto. E Melo Antunes afirmou relativamente à questão da guerra civil: “estivemos à beira disso variadíssimas vezes” durante o PREC. Talvez Melo Antunes e Mário Soares estejam errados. Talvez Sousa e Castro esteja certo. Mas esta é uma questão em que ninguém pode ter certezas absolutas, pois........

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