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Um postal de setembro a Umaro Sissoco Embaló

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11.04.2024

Caro Presidente,

Resolvi roubar tempo às minhas obrigações familiares e profissionais, e desembaraçar-me dos trapos de torpor, a fim de escrever este postal de setembro, com aromas da páscoa e do ramadão, porque “nô terra na dana” (a nossa terra está a estragar-se), “nô terra na murri” (a nossa terra está moribunda).

É um postal que tem como pano de fundo as primeiras zonas libertadas. À direita, encontram-se as fotos de Domingos Ramos e Pansau Na Isna. Também pode ver Cabral, o Vasco, porque a luta é a nossa primavera. À esquerda, sempre sorridente, está a Titina, “padida di dus mama” (a mãe de todas as crianças). Estão também a Carmen, a Francisca, o Francisco, o Paulo, o Osvaldo, o Nino. Mais abaixo, como a lista é longa, está estampada a imagem do soldado desconhecido, aquele que também prescindiu da sua juventude para libertar a mãe Guiné , tendo tombado com a arma em punho. E no meio, está aquele filho de olhar “comprido”, Abel Djassi, ou simplemente, Bartaba (saído das líricas dos Super Mama Djombo), o pai fundador, que dá pelo nome de Amílcar Lopes Carbral.

Permito-me, doravante, dirigir-me a si na segunda pessoa do singular, na qualidade de um ex-colega do bairro e do liceu, mas sobretudo pelo facto de nunca se dignar a usar a preceito as vestes presidenciais durante estes quatro anos.

Embora haja matéria para produzir um compêndio de história em vários volumes, é minha intenção escrever um simples articulado, singindo-me a elementos essencias para justificar o meu grito de revolta, que também transporta os murmúrios dos temerosos e o silêncio dos amordaçados, para dizer «i djusta dja » (basta!).

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Não obstante a contestação dos resultados das eleições presidenciais de 2019, considero que foste o candidato mais votado nas urnas. Mas a tua tomada de posse, a 27 fevereiro de 2020, sem pergaminhos institucionais e democráticos, começou logo a dar um lamiré do que infelizmente iria ser o teu mandato. A tua primeira decisão foi demitir o governo de então, sem contudo convidar a coligação que detinha a maioria absoluta no parlamento a propor um nome para primeiro-ministro. As regras do jogo democrático estavam, outra vez, viciadas. Os partidos que formavam o “clube de feiticeiros” para a tua eleição haviam “comprado” cinco deputados do PAIGC, relegando a sua aliança à minoria.

Movido pela intenção de premiar a “lealdade” e silenciar a crítica, fizeste-te rodear de um número alucinante de conselheiros especiais, sem que houvesse cabimento orçamental para fazer face aos seus salários. O teu pavor da crítica, esse elemento nutritivo da democracia, levou a que cidadãos, jornalistas e deputados fossem sistematicamente ameaçados, sequestrados e espancados por “sicários”, sem que houvesse investigação judicial. Fiel ao teu apanágio de gabarolas, qual “gatinho que quando se olha ao espelho só vê a imagem de um leão de juba farta”, nunca conseguiste sair das arruadas da campanha eleitoral, proferindo declarações mal polidas, carecendo de timbre institucional, vezes sem conta roçando o ridículo, não obstante o teu exército de conselheiros. Declarações incendiárias, com laivos de ódio, portanto, nas antípodas de quem se reclama “… o presidente da concórdia nacional”, uma expressão sloganizada que não cola com a realidade, quando és o primeiro a atiçar divisões na sociedade guineense. Ou mais ainda, “…implacável no combate à corrupção e ao tráfico de droga”, quando a corrupção é o cancro que já virou matastase e a droga é hoje vendida em mercado livre em Bissau.

O erário público está a ser delapidado sem piedade, todos assobiam para o lado, e ninguém apresenta os números do défice orçamental e da dívida pública, num país que não quer criar riqueza e confunde o desenvolvimento com o afagamento de uma artéria da capital com asfalto, uma obra banal que levaria a cabo um município num país organizado. E que engana aldeões, como fez Botche Candé, o teu fiel das trevas, com uma pequena ponte de madeira em cuja segurança o próprio não confia, porque na inauguração teve que ser segurado por dois homens para........

© Observador


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