Bem-vindos a Portugal!  

Há momentos em que o Estado se revela não nos grandes discursos, nem nas cimeiras internacionais, nem nos indicadores macroeconómicos que tanto entusiasmam decisores e comentadores, mas em gestos simples, quase banais: uma fila, um balcão, um carimbo, um olhar. O aeroporto é um desses lugares de revelação. É ali, naquele espaço liminar entre o fora e o dentro, que um país se apresenta ao mundo — ou se desmente a si próprio.

As longas filas de espera nos aeroportos nacionais, em particular no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, no controlo de entrada de passageiros estrangeiros, tornaram-se mais do que um incómodo logístico: são um sintoma político. Um sintoma grave de descoordenação institucional, de fragilidade administrativa e de uma perigosa indiferença perante a dignidade do outro — seja ele turista, investidor, trabalhador migrante ou simples visitante.

É indiscutível a importância do controlo de fronteiras. Num espaço Schengen pressionado por fluxos migratórios complexos, por riscos transnacionais e por exigências de segurança legítimas, o papel da AIMA no controlo documental e na triagem de entradas é não apenas necessário, mas essencial. A questão não é o controlo. A questão é a incapacidade crónica do Estado em garantir que esse controlo funcione de forma eficaz, célere e civilizada.

Nenhuma democracia funcional pode aceitar como normal que filas de entrada ultrapassem uma hora, duas horas,........

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