Tu não és a tua cor de pele, estúpido! |
Introdução
Com toda a humildade, e se tiver a paciência de ler o que segue até o fim, espero concordará comigo que este é um texto importante, fundamental e «libertador» que deveria ser, nos meus sonhos, de leitura obrigatória para todos os jovens ( e também os adultos), em África, começando em Cabo-Verde; e na antiga potência colonial, Portugal.
Importante porque temos que saber individualmente e coletivamente qual é a nossa identidade. Fundamental e Libertador, porque um jovem (e um adulto) com alguma curiosidade intelectual, e que for capaz de alguma concentração superior àquela de que as gerações de likes e dislikes das redes sociais são capazes, e que ler este texto e for capaz de perceber o essencial — ele(a) não é preto(a), negro(a), mulato(a), cabrita, «burmedjo», branco(a), amarelo(a), castanho(a) — atravessará a vida com menos sofrimento, mágoas, deceções, irritações, ilusões.
Quando encontrar o “branco” racista que acha que está a falar com o ” preto”, o nosso jovem, agora esclarecido sobre em que consiste a sua verdadeira identidade (é uma longa viagem para a descobrir), pura e simplesmente ignorará o “branco” ignorante. E terá pena de ter diante dele uma criatura que não sabe o que é um ser humano, porque ele mesmo não o é verdadeiramente. O que não significa, evidentemente, negar a humanidade do “branco.”
Au contraire. Porque agora o jovem que sabe em que se baseia a sua verdadeira identidade — a sua humanidade — reconhecerá e aceitará a humanidade de todos os seres: “brancos”, “amarelos”, “castanhos”, mesmo quando estes são racistas, porque racistas, só podem sê-lo, os que sofrem de ignorância profunda – ilusão que pode atingir os licenciandos, os doutorados, ou os que não sabem ler nem escrever; ignorância profunda que pode atingir os “brancos”, os “amarelos”, os “castanhos” e….os «pretos» que também sabem muito bem ser racistas a começar com os outros «pretos».
Mas como sei que sou tendencioso (somos todos) e que o meu ego não é um bom conselheiro, e engana-me sempre, tenho também a noção que esse texto só é verdade, fundamental, libertador para mim. Só faz sentido para mim, embora tenha ilusões que também possa ser para outros. Claro que isso não passa de Ilusões! Sonhos! Nuvens! Sombras! Bolhas de sabão!
Tenho a consciência de que os outros (a esmagadora maioria) não vão perceber, e se perceberem, não vão concordar. Muitos dirão que o texto não passa de uma série de disparates, banalidades, parvoíces que só podem ser produto de um tipo ignorante e pateta. E terão também toda a razão de assim pensar.
Também, muitos, não concordarão com o texto porque nós, os “pretos”, não nos vemos ao espelho… Exceto para ver como somos bonitos.
Mas ver-se ao espelho significa muito mais que isso. É tentar ver ao fundo de si mesmo: os seus defeitos, desejos, ilusões, mágoas, derrotas, invejas, sonhos, ignorância, medos, preconceitos, hipocrisia. Descobrir a sua própria sombra. E a sombra do “preto” é igual à sombra do “branco”, do “amarelo”, do “castanho.”
Devemos vermo-nos ao espelho para tentar descobrir a nossa verdadeira identidade. Não há outra solução.
Muitos ficarão zangados porque tratei o grande herói de ignorante, embora acho que tenha explicado porque é que ele era ignorante. A história tem que ser constantemente (re)interpretada… Quem diz a história, diz os homens que fizeram a história ou viveram a ilusão que fizeram a história.
Mas esse é um exercício, que, creio, mesmo a elite cabo-verdiana não está ainda preparada para fazer. Cabral, pai fundador da nacionalidade cabo-verdiana, faz parte da mitologia da elite e do povo cabo-verdiano. Precisamos todos de ilusões e sonhos para viver uma vida cheia de ilusões e sonhos e, morrer com a cabeça cheia de ilusões.
Leia! E não se arrependerá!
Tu não és a tua côr de pele, estúpido!
Cabral era um intelectual (criatura que acha que pode mudar a realidade usando palavras, que pode criar uma nova realidade usando palavras); um licenciado em engenharia numa altura em que a esmagadora maioria do povo português não sabia ler nem escrever, um funcionário ao serviço do império português em Angola e algures, foi um escritor para povos colonizados que não sabiam ler, nem escrever (e a esmagadora maioria continua sem saber ler, nem escrever); foi um poeta medíocre e um pedagogo condenado a fracasso.
Cabral era um Português, um “Cabo-verdiano” , um “Guineense.”; um pan-africanista, um marxista-leninista. Um revolucionário. Cabral foi marido, pai, irmão e pai fundador da nacionalidade guineense e cabo-verdiana.
Cabral foi educado e formado pelo império Português. Ele fazia parte da elite portuguesa pela sua família, educação, língua,valores, formação académica e profissional ; e pela sua formação intelectual e ilusões, Cabral fazia parte dos intelectuais revolucionários europeus de “esquerda” que acreditavam nos apóstolos Marx, Lenin e Trotsky etc…
Cabral era um........