A consciência do eu e o enigma da vida

A consciência acompanha-nos como uma presença silenciosa, como o ponto imaterial a partir do qual percebemos o mundo e a nós mesmos. É o invisível que nos diz, eu existo, e que sustenta a experiência do ser. Quando a observamos com lucidez e pragmatismo, percebemos que esta presença, emerge de processos que dependem do pensamento e que o pensamento, por sua vez, depende de um suporte físico. O cérebro é o instrumento que organiza esta sensação subtil da existência a que chamamos consciência, sob forma de narrativa do pensamento, e é o veículo físico que traduz o inefável em experiência. Este triângulo consciência, pensamento e corpo define-nos, mas também limita o horizonte do que somos capazes de compreender.

Se a consciência que vivemos está enraizada na biologia que a manifesta, então torna-se pouco plausível que qualquer vida depois da vida possa manter a individualidade e a continuidade subjetiva a que estamos habituados. A continuidade pode existir, mas não poderá preservar emoções, desejos ou memórias, pois estes pertencem ao reino da química e da biologia celular. São produtos da densidade da matéria e extinguem-se com ela.

É imprudente afirmar que nada existe para além da vida biológica, mas é igualmente insustentável imaginar que essa possível existência reproduza o padrão humano do eu. A alma........

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