A central solar Sophia: o impacto e a oportunidade perdida

A implantação de mega centrais solares na Beira Interior, como a Central Fotovoltaica Sophia com os seus 867 MWp, tem gerado uma onda crescente de inquietação pública. As críticas ao impacto ambiental acumulado, ao uso intensivo do solo em zonas sensíveis e à ausência de uma Avaliação Ambiental Estratégica são pertinentes e demonstram que o debate deixou de ser técnico para se tornar político e social. Contudo, por trás do conflito e da aparente oposição entre transição energética e preservação territorial esconde-se uma oportunidade que o país insiste em desperdiçar, e esta oportunidade tem nome: justiça energética.

O centro da polémica não está apenas na escala desproporcionada destas centrais nem na localização escolhida para as instalar. Está sobretudo na ausência total de mecanismos que permitam que a energia aqui produzida contribua de forma direta para quem vive nestes territórios. A Beira Interior é uma das regiões com maior incidência de pobreza energética em Portugal. Famílias que aquecem casas com lareiras improvisadas, pequenos negócios que fecham portas quando chegam as faturas de dezembro, comunidades envelhecidas vulneráveis à oscilação da energia que é importada, transportada e tarifada a preços cada vez mais imprevisíveis.

É paradoxal que uma região que está prestes a produzir mais de um gigawatt solar não tenha qualquer garantia de que uma fração dessa energia, física ou contratual, reverta em........

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