É preciso um sobressalto cívico 

Em política não há gratidão. Habituámo-nos a ver apoiantes entusiastas mudarem de barricada por um prato de lentilhas. As lealdades partidárias são efémeras e pouco levadas a sério, porque as ideologias e as causas transformaram-se numa bolsa de interesses. Os partidos do “centrão” são academias que ministram cursos de pensos rápidos de assalto ao poder, nomeadamente, através das jotas. O resultado é o nascimento de falanges entusiastas, unidas por interesses corporativos que atravessam “tudo o que é sólido se dissolve no ar” sem reflexão e “porque sim”.

Se olharmos para estas eleições pesando os muitos fatores — experiência, notoriedade, reconhecimento da sociedade, mérito profissional, científico e cultural –, a desilusão é total. Ela começa nos líderes e continua nas listas de deputados. Claro que há honrosas exceções, mas essas são insignificantes e não desmentem a realidade. Estamos a colher a crescente descredibilização da atividade política, com responsabilidade dos próprios políticos, que deixaram de prestar contas aos eleitores e transformaram a política num negócio de oportunidades e........

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