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A política do futuro e o futuro da política

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15.10.2024

As grandes transições – climática e energética, ecológica e alimentar, tecnológica e digital, demográfica e migratória, geopolítica e securitária, social e cultural – têm um impacto estrutural profundo, cujas consequências começam, agora, a ficar mais visíveis na nossa vida quotidiana. Cada uma destas transições tem um ciclo de impacto de duração variável e uma estrutura de custos associada muito complexa. Falamos de custos de contexto, de formalidade e administração, de organização e transação, de efeitos externos negativos, de cobertura de risco, de custos económicos de oportunidade e custos de informação e comunicação. Ou seja, as grandes transições em curso conduzem-nos até à governação e ao governo das sociedades complexas, se quisermos, a uma mudança paradigmática de sociedade.

Neste contexto tão vertiginoso, precisamos, urgentemente, de um pensamento político que seja capaz de prevenir o colapso da sociedade e o risco iminente de colisão entre o ator e o sistema. Precisamos de impedir que a sociedade se torne ingovernável e que a implosão das dimensões espaço-tempo gere uma sucessão de crises intermináveis de urgência e emergência. Precisamos, sobretudo, de impedir a digitalização da política, ou seja, uma certa instrumentalização da política, fruto do digitalismo, da sensorização, da internet dos objetos, da inteligência artificial, dos ambientes simulados, sob o comando de um crescente capitalismo de vigilância. Neste contexto tão saturado, o que poderá ser uma política do futuro e, portanto, o futuro da política? Se quisermos, o futuro como esperança positiva, mobilizadora, ou o futuro como risco e incerteza, como desesperança?

O futuro da política está, doravante, muito dependente do modo como abordarmos a política do futuro. Há, como é evidente, muitos futuros à nossa frente, uns mais positivos, outros mais sombrios, todos eles expressões de uma sociedade muito fragmentada e polarizada. Não é, pois, uma tarefa fácil. Quando tudo é mais ou menos previsível, o futuro fica à nossa espera e o caminho faz-se caminhando. Quanto tudo parece mais instável e incerto, o futuro não fica à nossa espera e quando lá chegamos muito provavelmente ele já lá não estará. Ou seja, o futuro padece de um paradoxo temporal, decide-se hoje no futuro do presente e vive-se amanhã no presente do futuro. E como é que se preenche essa trajetória entre o presente e o futuro, de tal modo que o futuro decidido hoje possa ser desdobrado e prosseguido e, assim, ser, tanto quanto possível, idêntico ou similar ao presente do futuro amanhã?

A política do futuro precisa, desde logo, de intencionalidade e........

© Observador


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