Um bitoque no labirinto da saudade
É um tasco orgulhoso ali para as bandas da Lisboa dos anos 60 que tem aparecido, com frequência, nos tops da especialidade – dispensa que lhe faça ainda mais propaganda. A carta é curta, como recomendam os entendidos, e peço um clássico, que logo o rapaz retransmite, em tradução automática para a cozinheira, atrás do balcão: “One bitoque!” A senhora, cuja origem não consigo nem me parece importante localizar, faz um dos melhores bitoques da cidade. Não; da vida. E comove-me o sincretismo da coisa: “One bitoque!” Talvez ainda não saiba nomear em língua portuguesa a numeração mais básica, mas sabe o que é um bitoque – se sabe. Não é um “little steak”, nem um “boeuf avec oeuf à cheval”. É um bitoque, redondo, inteiro, português, universal. O sushi dispensa traduções; o spaghetti também; o bitoque porque haveria de se encolher?
Vem isto a propósito de quê? Ora, ainda bem que me faz essa pergunta, caro leitor. Das eleições, pois claro – e de uma campanha eleitoral em que a imigração se tornou, definitivamente, às claras, um dos temas na agenda.
Ainda há bem pouco, era assunto proibido, território pantanoso; depois, pé ante pé, perdeu-se-lhe o medo. De um partido anti-imigração, passámos para três ou quatro; e das franjas para o centrão, da política “de braços abertos” para a da “regulação humanista”. Porquê? Por duas razões: porque há um problema real e porque o nacionalismo é só a última moda multinacional – que é como quem diz, vamos lá ser bem portugueses e fazer como se faz lá fora. A política anti-imigração, afinal,........
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