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Profissão: influenciador

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11.04.2025

Tenho 44 anos. Há mais de três que passei o meio da esperança média de vida à nascença no meu país e ainda mais se considerarmos apenas a dos homens – apesar disso, amigos ligeiramente mais velhos insistem em tratar-me como um jovem. Cresci num mundo sem internet. Aprendi a tocar guitarra com uma sebenta do Roberto Carlos, a rebobinar cassetes com um lápis; descobri que havia uma coisa chamada sexualidade com os calções da Daisy Dukes e a voz da Lena d’Água. VI o “Exterminador Implacável” numa versão um minuto mais breve do que o resto do mundo porque a RTP-Açores se dava ao trabalho de cortar as love scenes em que os actores principais dos filmes se envolviam amorosamente em contraluz, antes do inevitável e púdico fade out. Sou do tempo em que a Rádio Renascença censurava canções do Marco Paulo, a RTP sketches do Herman, de ainda ir ao fotógrafo eternizar a imagem com a roupa nova; em que o Luís Pereira de Sousa era uma pessoa famosa, pela simples razão de não haver mais nada para ver na tv, principalmente no Verão (fui procurá-lo agora à Wikipédia e recebi uma mensagem de “erro interno”. Juro). Não estou a dizer que, dantes, é que era – não era – nem sequer que perceba completamente o mundo actual – não percebo. Mas duma coisa tenho a certeza: há algo de fundamentalmente errado na forma como deixamos os nossos miúdos expostos à “influência” da internet.

Nas últimas semanas, um fulano qualquer numa entrevista gabou-se de ter atropelado uma mulher e fugido; um grupo de rapazes entre os 17 e os 19 anos violou uma rapariga de 16, filmou e partilhou o vídeo no TikTok. Como se não bastassem os crimes que cometeram, um e outros foram apresentados pela imprensa........

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