A determinado momento, todos queríamos escrever como Paul Auster. Com aquela sofisticação, aquele cosmopolitismo, e sobretudo aquela religião moderna de encontrar um sentido para o acaso. Eu próprio escrevi e publiquei em 2009 um romance – falhado – de aspirações austerianas. Até a pinta, a elegância física, batia certo. Era o escritor que queríamos ser, a bater à máquina num loft de Brooklyn, com vista para Manhattan, a grande meca do fim de século, onde todos os encontros e desencontros eram possíveis e, portanto, mais possíveis e fascinantes as coincidências (na verdade, Auster escrevia à mão, mas não o sabíamos à época).
Sim, também a nossa fantasia com Nova Iorque foi moldada por ele, muito antes de friends e sexos e a cidade e de toda a criatura se sentir, ao que parece, legalmente obrigada a visitar a cidade pelo menos uma vez na vida. “A Trilogia de Nova Iorque”, justamente, foi o primeiro Auster que li e que nunca mais poderia ser esquecido: como o simples aceitar de um telefonema feito por engano nos podia transportar para uma vida completamente alternativa. A sensação de algo extraordinário poder estar sempre a passar ao lado nosso lado, se optássemos pela outra porta, se ficássemos mais dez minutos à mesa do café, se entrássemos naquela carruagem e não na outra.
A partir dali, era tudo quanto queria ler: “Leviathan”, “A Música do Acaso”, repetiam o........