A nostalgia é uma coisa que se mete imenso no caminho da razão. Estávamos a ver e ouvir os Pearl Jam, pela terceira ou quarta vez, no Passeio Marítimo de Algés, e a discutir se não haveria mesmo uma certa vantagem na forma como a geração pré-internet consumia a música. Já não falo das referências que só chegavam através do NME e da Uncut a papelarias de nicho porque não estávamos nesse nível, contentávamo-nos com o “Top Disco” do Rui Pêgo e o “Countdown” do Adam Curry; nem sequer da superioridade ou não do vinil, do valor que se dava ao disco que se comprava por três ou quatro contos (15 ou 20 euros, no tempo em que se almoçava por cinco), um mergulho que se fazia de olhos fechados quando se conhecia apenas um ou dois singles e só quando chegava a casa se descobria em que é que tínhamos enterrado as poupanças tão parcamente suadas entre donativos da avó e cortes no lanche. Refiro-me a um gesto ainda mais pelintra e extraordinário: seleccionar as músicas que íamos passar para cassete.
Isto porque, ao primeiro acorde, tínhamos acabado de reconhecer “Elderly Woman Behind a Counter in a Small Town”, entoado a letra completa, identificado o álbum a que pertencia e qual a posição ocupada no alinhamento do disco. Um tema que nunca foi single. Como era possível que o soubéssemos ainda, 30 anos depois do facto, quando hoje parecemos biologicamente incapazes de decorar uma letra inteira dos National? Porque, lá atrás, em 94, algures num sótão em Angra do........