Presidenciais 2026: Carreiristas vs Quem Conhece a Vida

Portugal encontra-se novamente numa encruzilhada decisiva. As eleições presidenciais de 18 de janeiro de 2026 trazem ao palco um conjunto de oito candidatos que, de formas distintas, representam visões diferentes sobre o que deve ser a liderança do país. Entre políticos de carreira que nunca saíram da bolha de Lisboa, militares que desafiaram o status quo, e vozes que prometem mudança mas acabam por soar a mais do mesmo, os portugueses terão de fazer uma escolha fundamental: queremos continuar com os mesmos rostos que sempre geraram os mesmos problemas, ou estamos dispostos a arriscar numa liderança diferente?

Comecemos por Luís Marques Mendes que se apresenta aos portugueses como o candidato da experiência, da estabilidade, da previsibilidade. Nascido em Azurém, Guimarães, em 1957, licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Marques Mendes construiu toda a sua identidade em torno da política. E é precisamente aqui que reside o problema fundamental desta candidatura: o candidato nunca fez vida para além da política.

Desde muito jovem, aos 19 anos já era vice-presidente da câmara municipal de Fafe, Marques Mendes mergulhou de cabeça no universo partidário e nunca mais saiu. Durante vinte e dois anos consecutivos ocupou cargos governativos: foi Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares entre 1985 e 1987, Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros entre 1987 e 1992, Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro entre 1992 e 1995, integrando os três governos de Aníbal Cavaco Silva. Mais tarde, no governo de Durão Barroso, assumiu a pasta de Ministro dos Assuntos Parlamentares entre 2002 e 2004. Foi ainda presidente do PSD entre 2005 e 2007, líder parlamentar e Conselheiro de Estado.

Depois de deixar a liderança do PSD, após a derrota nas eleições diretas de 2007, Marques Mendes regressou à advocacia, mas sempre numa perspetiva empresarial e de consultoria estratégica, nunca verdadeiramente desligado das teias do poder. É consultor da Abreu Advogados desde 2012, onde exerce também o cargo de Presidente do Conselho Estratégico. Foi ainda administrador em várias empresas ligadas ao setor da energia, presidente da assembleia-geral da Lenitudes, SA, e teve ligações empresariais que não deixaram de suscitar questões.

O que Marques Mendes nunca fez foi trabalhar verdadeiramente fora do circuito político-empresarial que gravita em torno do poder. Nunca conheceu o que é construir algo de raiz sem as redes de contactos que a política lhe forneceu, nunca sentiu na pele as dificuldades que um cidadão comum enfrenta quando tenta empreender ou simplesmente sobreviver num país cada vez mais caro e burocrático.

Na apresentação da sua candidatura, Marques Mendes enfatizou que “o cargo de Presidente da República é um cargo eminentemente político” e que “deve ser exercido por quem tem experiência política”. Mas será mesmo? Ou será que esta é precisamente a visão que perpetua o círculo vicioso da política portuguesa, onde os mesmos rostos se revezam nos mesmos cargos, falando a mesma linguagem, prometendo mudanças mas mantendo tudo essencialmente na mesma?

Em contraste marcante surge o Almirante Henrique Gouveia e Melo, um homem cuja carreira se fez longe dos gabinetes de Lisboa e dos corredores do poder partidário. Nascido em Quelimane, Moçambique, a 21 de novembro de 1960, Gouveia e Melo ingressou na Escola Naval em 1979 e construiu uma carreira militar de excelência ao longo de 45 anos.

O seu percurso é impressionante pela diversidade e complexidade das funções desempenhadas. Integrou a Esquadrilha de Submarinos em 1985, navegou nos submarinosAlbacora, Barracudae Delfim, exerceu o comando dos submarinos Delfim e Barracuda e da fragata NRP Vasco da Gama. Foi Comandante Naval entre 2017 e 2020, período em que se destacou na liderança de ações de elevada complexidade como os incêndios de Pedrógão Grande, o apoio após o ciclone Idai em Moçambique e os estragos causados pelo ciclone Lorenzo nos Açores.

Entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021, exerceu as funções de Adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, funções que acumulou, entre fevereiro e setembro de 2021, com as de Coordenador da Task Force para a vacinação contra a COVID-19.

Foi sobretudo no desempenho desta função que o Almirante se tornou conhecido entre os portugueses. Em pouco tempo colocou o país como o primeiro do mundo a atingir a meta dos 85% de população........

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