As conspirações contra a América

Nem sei porque é que a polícia de lá se deu ao trabalho. Antes da madrugada de sexta-feira, já incontáveis portugueses tinham descoberto a causa do assassínio do físico Nuno Loureiro: a circunstância de viver nos EUA. Milhares de especialistas em psicologia social que exercem no Facebook explicaram sem grandes detalhes nem paciência que aquilo é um regabofe em que toda a gente anda armada e desata ritualmente aos tiros. Incauto que ponha ali o pé habilita-se imediatamente a ser baleado. O prof. Loureiro, brilhante na investigação da energia de fusão limpa e irrelevâncias assim, carecia desta sapiência que só se adquire na Universidade da Vida, se por “vida” quisermos dizer passar os dias a repetir mitos, bitaites e asneiradas acerca de assuntos que prodigiosamente desconhecemos.

Na verdade, o prof. Loureiro foi morto em Brookline, arredores de Boston, à porta de casa. Há seis anos que não havia um homicídio nessa cidade de sessenta e tal mil habitantes: em vinte anos, o do prof. Loureiro foi o segundo. Nesse período, houve no município de Lisboa cerca de 300, 150 vezes mais para uma população 10 vezes maior. Pressupor que o prof. Loureiro corria risco acrescido apenas por morar onde morava é dos maiores erros de cálculo ao alcance de um ser humano. Pior, só se entretanto se descobrisse que o criminoso nem sequer era americano, e........

© Observador