Trincão ou Platão?
Há uns dias atrás houve um importantíssimo jogo de futebol para decidir quem será o campeão da liga portuguesa. O Benfica recebeu o Sporting. O jogo começou mal para os encarnados, Trincão marcou um golo logo nos primeiros minutos e gelou o estádio da Luz. Com eleições à porta para renovar o parlamento nacional uma questão é imperativa: porque é que os portugueses preferem o Trincão ao Platão?
O pensamento europeu, pelo menos desde a Grécia Antiga, questiona-se sobre o papel que o povo deve desempenhar nos afazeres políticos do ordenamento jurídico-político que ajuda a constituir. Aristóteles, que alguns definiriam como um discípulo de Platão, apresentou-nos 3 formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a politeia. Respectivamente: o poder de um, de poucos ou de muitos. Estas três formas poderiam decair nas suas versões pervertidas: a tirania, a oligarquia e a democracia.
Para o leitor actual há algo que chama a atenção quase automaticamente: a democracia é uma forma pervertida? Como pode Aristóteles ter dito tal barbaridade? A democracia, nos dias que correm, é-nos apresentada como a melhor forma de todas! Por isso mesmo existem pensadores que optam por escrever democracia em vez de politeia, e para a forma pervertida escrevem oclocracia.
Apesar dos pensadores da Grécia Antiga terem muito para nos ensinar, temos a convicção que não podemos fazer uma transposição destes conceitos para o presente, sem qualquer espírito crítico. Afinal, muitos séculos nos separam da Antiguidade. Rousseau, em rebelião contra a teoria das ideias – também dita das formas – de Platão, insistirá no carácter historicamente determinado das ideias e falará de uma democracia que pouca semelhança tem com a aristotélica.
Não ganharia a nossa república em ter cidadãos que abandonariam Trincão a favor de Platão? Principalmente numa altura........
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