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As redes sociais. Que faço eu aqui?

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19.11.2025

No meio do ruído, se não gritar, se não berrar, se não insultar, alguém me ouve? As redes sociais estão a transformar a nossa arquitetura mental, tanto no plano cognitivo como no moral. Essa transformação não é apenas um efeito colateral da tecnologia: decorre de incentivos desenhados e, em alguns aspetos, deliberados. As plataformas digitais são, por um lado, um espaço de liberdade e de democraticidade sem precedentes, mas podem também representar um passo decisivo na perda da autonomia interior, reduzindo a relevância individual a meia dúzia de gostos ou insultos. A rede funciona como eco do que desejamos ouvir e valida aquilo em que já acreditamos, reforçando o ruído que confirma o que contestamos. O algoritmo conduz-nos para escolhas que nem sempre são verdadeiramente nossas.

Há hoje razões sólidas para afirmar que as redes sociais remodelam a arquitetura mental humana. No plano cognitivo, habituam o cérebro a estímulos rápidos e recompensas imediatas, encurtando a atenção e substituindo a reflexão pela reação. O movimento contínuo do ecrã treina-nos para procurar gratificação instantânea, enquanto a abundância de informação reduz a necessidade de memória interna. Saber onde encontrar parece bastar: procuramos o que nos valida, mas também o que nos provoca repulsa. A mente aprende a reagir em vez de aprofundar, a consumir em vez de compreender. O resultado é uma atenção fragmentada, uma paciência intelectual diminuída e uma predisposição para o pensamento superficial, instintivo e tribal. Neste modelo, as redes produzem comunidades movidas pela hostilidade ao outro. O que é essencial dilui-se facilmente no tema do dia ou da semana, indistinto do irrelevante.

No plano moral, a transformação é igualmente profunda. As redes substituem a virtude vivida pela virtude exibida, convertendo a moralidade em performance pública. Ser bom importa menos do que parecer bom. A indignação instantânea torna-se critério moral, favorecendo julgamentos apressados e intolerância à nuance. A dinâmica de cancelamento cria mecanismos de punição social sem mediação, enquanto a validação tribal suplanta a procura da verdade: o certo passa a ser aquilo que o grupo aplaude. Surge assim uma moralidade emotiva,........

© Jornal SOL