O Matuto e as Livrarias

O Matuto gosta de livrarias. Facto. Se o estimado leitor não partilha do mesmo sentimento, pode desembarcar desta crónica, porque de livrarias se falará.

O Matuto frequenta livrarias por devoção antiga. Hábito. Traquejo. É uma rotina, dessas que se colam à alma como cheiro de pão quente. Entrar numa livraria é, para ele, um gesto sagrado: fala-se baixo, anda-se devagar, e cada um procura o seu milagre. O sino da porta tilinta com humildade, o chão range com prudência, e o ar tem aquele perfume de papel, cola e eternidade que só os livros sabem exalar.

“Quando penso no paraíso, imagino sempre uma livraria” – esta frase de Jorge Luis Borges, sempre vem à mente do Matuto quando entra numa. Há um ‘paraíso’ assim, em Rochester, Inglaterra. Na ‘High Street’ – a rua principal da cidade – no número 19, encontra-se a Baggins Book Bazaar. Para lavar os olhos pode o leitor ir aqui. Este espaço está cheio de referências literárias. Desde logo o nome Baggins que nos leva ao universo Tolkiano, e o seu simpático ‘hobbit’, Bilbo Baggins. Além disso Rochester é a terra de Charles Dickens. O Matuto tem a memória em brasa, com deambulações pelas salas infindáveis da Baggins, especializada em livros em segunda mão, mastigados pelo tempo. Bom, naquele tempo, as libras eram escassas e o Matuto........

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