Arouca em papel de parede…

Papel de parede é título de uma crónica que procura questionar a forma como celebramos a mudança e a transformação na sociedade e cultura local. A sua escolha está diretamente relacionada com os tempos frágeis e mutantes que se vivem em termos económicos, sociais e culturais a nível nacional e internacional. O mundo está mais frágil e desprotegido perante as ameaças que novamente pairam sobre nós. Os anjos da guarda recolhem as asas numa atitude de indignação e, perante a estupidez humana regressam aos mausoléus de Fragonard, libertando o homem dessa condenação primordial, mas ao mesmo tempo, desprotegendo-o das incertezas e desesperanças do mundo.

As sociedades desde o local ao global massificam-se, empobrecem espiritual e intelectualmente, perdem centralidade antropológica perante a afirmação da bestialidade do consumo, do novo-riquismo, da ignorância e da exploração económico-financeira. Fizeram-nos acreditar que o mundo seria uma disneylandia ao serviço dos prazeres do consumo e dos voyeurismos hedonistas. Já não somos filhos dos trinta anos gloriosos, nem os bastardos desta conspiração neocapitalista/globalista que nos querem impor como único modo de vida: o empobrecimento como condição natural.

Os valores humanistas e os Direitos Humanos são substituídos pela grosseria, pela bestialidade, pela ignorância, pela prepotência do “ter” em detrimento da dignidade do “ser”. Um mundo onde a ganância e a exploração são a marca de água duma civilização em decadência galopante, incapaz de fazer frente a um capitalismo imoral e sem justiça social.

Ao utilizar a metáfora do papel de parede, remeto obrigatoriamente para os tempos actuais de oportunismo e de voyeurismo, de superficialidade e de não identidade. Na........

© Jornal SOL