Habitação e clima, um olhar que começa em Portimão e atravessa o país

Esta pergunta persegue-me. Será que ainda é possível ter um lar digno e, ao mesmo tempo, proteger-nos de um clima que se tornou imprevisível? Sinto-o sempre que falo com jovens casais de Portimão que procuram casa há meses sem sucesso. E vejo o mesmo noutros lugares do país, como em Carcavelos, onde famílias me relatam o dilema de pagar a renda ou a conta da luz. Quando realidades tão diferentes contam a mesma história, percebemos que o problema deixou de ser local para se tornar estrutural.

Os números apenas confirmam o que a rua já sabe. A Comissão Europeia aponta para perto de sete por cento de portugueses em sobrecarga habitacional e os preços médios por metro quadrado ultrapassam os dois mil euros. Em Portimão, um T2 que há dez anos custava menos de duzentos mil euros, hoje toca nos quatrocentos mil. Há casos que chegam ao meio milhão, embora em condomínios específicos, mas nas zonas de luxo a conversa já se faz em milhões. Importa dizê-lo com rigor, porque a confiança em quem escreve constrói-se na precisão.

O debate, porém, continua preso a uma espiral simplista. Uns culpam a ganância do mercado e pedem ruturas. Há outros acreditam que a desregulação resolve tudo. Como social-democrata, recuso este........

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