Pátria lambida
Quando ainda havia tabernas autênticas conheci uma no Alentejo profundo ao lado de uma estrada onde viajava gente que por lá parava, ao invés de hoje em que as vias rápidas engolem apressadas a planície antes de se avistar a praia. O velho taberneiro, um rabugento republicano patriota de cepa velha, atrás do balcão corrido contou-me um episódio curioso. O caso é que a um canto do chão da taberna havia um prato de loiça – eu ainda o vi – a servir de gamela a três gatos meio foragidos que por ali cirandavam. Certa vez um caçador citadino que ali estacionou, cativou-se manhosamente por um dos gatinhos, branco, ágil e faminto que alambazado lambia os fundos do prato. «Lindo bichano, vem cá, pss, pss…», chamou o simpático que logo quis levá-lo pagando, claro. Dois, três, cinco mil escudos pelo gato, subiu licitando; vendido! bateu o taberneiro no balcão fazendo da mão martelo leiloeiro. O viageiro pagou e pegou no gato, levou-o até ao jipe e depois voltou insinuante: «Amigo, já agora........
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