Ressuscitar por IA os entes queridos: o impacto psicológico nos processos de luto |
O avanço da inteligência artificial (IA) tem introduzido novas possibilidades na forma como os indivíduos se relacionam com a morte e com o processo de luto. Entre essas inovações destaca-se a designada “ressurreição digital” – a recriação de vozes, imagens ou mesmo avatares de pessoas que morreram – inaugurando uma nova fronteira na experiência de luto, ao prometer prolongar, num plano não real, o vínculo emocional entre os que vivem e os que morrem. Embora essa tecnologia permita recriações que representem um recurso de conforto, continuidade e presença, não nos podemos esquecer das questões sobre o impacto psicológico de manutenção deste tipo de vínculo com alguém que já morreu e não existe mais no mundo físico.
Entramos assim numa era em que ficam desafiados os processos naturais de integração e elaboração de perda, exigindo uma criteriosa reflexão ética e emocional.
A IA pode criar hologramas com a imagem do ente querido, transformar fotografias em versões dinâmicas que interagem com os enlutados, ou mesmo discursos produzidos com a voz da pessoa que morreu. Estes “Griefbots” simulam então a presença e/ou a comunicação com pessoas que morreram, recorrendo aos dados que deixaram – mensagens, vídeos, voz, publicações em redes sociais – para gerar respostas que imitam o seu modo de falar e de se comportar. Assim, emergimos numa nova experiência de luto, conhecida como “Grief Tech”, que levanta uma questão central:
Até que ponto estas tecnologias ajudam verdadeiramente o processo de luto — e quando é que, pelo contrário, o podem dificultar?
O luto é um processo natural marcado de reações emocionais,........