O desafio do empreendedorismo académico |
Nos últimos anos, tornou-se quase imperativo sugerir que os investigadores devem sair do laboratório, montar startups, atrair capital de risco e transformar as suas descobertas em unicórnios tecnológicos. Esta narrativa, com fortes raízes na realidade dos EUA, promove uma visão distorcida do que significa empreender a partir da ciência. A realidade é que transformar ciência em negócio é muitas vezes difícil, lento e arriscado.
Há casos de sucesso, investigadores que criaram empresas sólidas e inovadoras. Exemplos que devem ser celebrados, estudados e apoiados. Mas são exceções, frutos de equipas, contexto, persistência e capital muito específicos. O erro é tratar estes raros unicórnios como regra, como se todo cientista tivesse de se tornar empreendedor rápido e disruptivo. Nem todas as tecnologias têm um caminho curto ou fácil para o mercado. O desenvolvimento de tecnologias disruptivas deeptech é longo, incerto e exige paciência e apoio que faltam no nosso ecossistema. Esta visão tóxica do “sucesso estrondoso” desvaloriza outros tipos de impacto e cria frustração em vez de inspirar.
A fantasia do investigador-CEO é irresistível. Promove-se a imagem sedutora de um jovem doutorado com uma grande ideia, que sai do laboratório para criar uma empresa disruptiva e atrai milhões em investimento, mas esta narrativa é, na esmagadora maioria dos casos, uma exceção. Na realidade, poucos investigadores estão preparados para enfrentar os desafios do empreendedorismo. A isto soma-se um ecossistema de financiamento ainda frágil. O capital de risco em Portugal é escasso, avesso ao risco tecnológico profundo e aos longos ciclos de maturação típicos da........