A modernidade tem sido, para a ciência e para as nossas sociedades, um projecto de eliminação de ambivalências, a clarificar diferenças, a separar conceptualmente partes da realidade, a interpretá-las como polaridades que ganham a forma de oposições, quase sempre a forçar-nos a tomar partido por uma delas. O grande pensador social polaco Zygmunt Bauman deu bem conta desta tendência em Modernidade e Ambivalência.
Hoje, a racionalidade e a política vivem desta extinção da ambivalência, como se assim a verdade levasse a melhor sobre o erro. Contudo, nesta verdade vai colado um erro de outra natureza. Eliminamos as ambivalências quando importaria, sobretudo, habitá-las. Podiam ser outras, mas penso em três ambivalências, que se relacionam entre si, na esfera política.
A oposição entre esquerda e direita a propósito de serem, ou não, revolucionárias ou conservadoras. A oposição entre o local e o global a propósito de serem, ou não, emancipadores. E a preferência por termos, ou não, fronteiras nos territórios que habitamos. Em todas, a questão do sentido da acção política não se resolve contra a ambivalência, como se faz crer tantas vezes, mas no seu interior, sem forma de contornar a mistura e a possibilidade de nos encontrarmos onde não pensaríamos estar.
Quanto à esquerda e à direita, e apesar das simplificações que confortam as perspectivas de uns e de outros, não........