As festas de S. João são uma das principais marcas identitárias do Porto e das suas gentes.

Por isso, quando lemos que a Câmara do Porto, este ano, lhe dedica um orçamento de 615 mil euros, que pagam uma miríade de iniciativas, distribuídas por todas as freguesias e que têm como ponto alto a noite de S. João, ninguém discorda dessa utilização de dinheiros públicos. Até porque todos estes eventos são de participação livre e gratuita, o que permite o acesso de todos sem qualquer discriminação social. O que contribui para o genuíno caráter popular das festas de S. João no Porto, que as tornam únicas.

Pela sua proximidade temporal e pela semelhança da verba que sai dos cofres municipais, não podemos deixar de comparar este apoio com o subsídio atribuído ao festival Primavera Sound Porto. Sem dúvida um importante evento que, durante quatro dias, anima o Parque da Cidade, atraindo 40 a 45 mil pessoas por dia, segundo os organizadores. De iniciativa privada, o que se justificava era um apoio logístico da parte do município, cedendo o Parque da Cidade e ajudando nas operações de montagem do recinto. Mas, como o habitual patrocinador este ano decidiu não apoiar o festival, o promotor virou-se para a Câmara, que lhe atribuiu um subsídio de 650 mil euros, sem qualquer efeito no preço dos bilhetes: 70€ por dia ou 170€ para os quatro dias, valores inacessíveis a muitas bolsas. Como dizem os organizadores, o orçamento do festival é de 13 milhões de euros, fazendo umas contas e considerando que vão 40 mil pessoas por dia e 80% pagam o bilhete diário e os restantes compram o passe para os quatro dias, a receita de bilheteira cobre 80% do custo do festival. A que se somam todas as receitas pagas pelas marcas que lá colocam os seus stands e vendem os seus produtos.

Por isso choca que a Câmara do Porto pague mais para este festival do que aquilo que despende no verdadeiro ex-líbris da cidade que são as Festas do S. João.

*Deputado municipal