O alvo inicial foi a imigração. E foi em grande parte devido à retórica nacionalista, xenófoba, alicerçada no supremacismo branco e cristão, que Donald Trump venceu as eleições de 2016 e chegou à presidência dos EUA. Em 2024, os imigrantes que “envenenam o sangue” da nação continuam na lista de alvos a abater. Mas talvez já não sejam o alvo principal. O grande favorito nas primárias republicanas aponta, desta vez, aos adversários internos. Longe vão os tempos em que se limitava à proposta quase inócua de “drenar o pântano” de Washington. A fasquia foi elevada: são “vermes” que têm de ser “erradicados”, diz, inspirado na retórica fascista e nazi dos anos 30 do século XX. A “ameaça interna” é mais “sinistra, perigosa e grave” do que as “forças externas”, insiste Trump, que, entre um comício e outro, apela à “execução” de um general, à “prisão” dos adversários políticos, ou à “suspensão” da Constituição.

Trump sabe que vai ao encontro do que já pensam dezenas de milhões de americanos. Como revelou um estudo de opinião de final do ano passado, 38% dos americanos suspiram por um líder autoritário disposto a violar as regras (48% dos republicanos); 33% subscrevem a ideia de que Deus pretendia que os EUA fossem a terra prometida, onde os cristãos europeus criariam uma sociedade exemplar (52% dos republicanos); e, finalmente, 23% acreditam nos três “mandamentos” do QAnon, movimento extremista nascido nas redes: que Governo, média e finanças são controlados por um grupo de adoradores do Diabo e pedófilos, que vem aí uma tempestade que varrerá do poder as elites corruptas, e que os verdadeiros patriotas podem recorrer à violência para salvar o país (29% dos republicanos).

Há razões de sobra para um português se preocupar com as eleições presidenciais nos EUA (como o presidente Marcelo, na sua mensagem de Ano Novo). Porque são o país e a democracia (por enquanto) mais poderosa do Mundo. E porque também na União Europeia e no nosso país ganham força e expressão os “minions” (lacaios, em português) de Trump, que, como ele, cultivam e se alimentam do populismo, do nacionalismo, da xenofobia, do medo, da demagogia e, se um dia vier a ser necessário, da violência política.

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Trump e os seus "minions"

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18.01.2024

O alvo inicial foi a imigração. E foi em grande parte devido à retórica nacionalista, xenófoba, alicerçada no supremacismo branco e cristão, que Donald Trump venceu as eleições de 2016 e chegou à presidência dos EUA. Em 2024, os imigrantes que “envenenam o sangue” da nação continuam na lista de alvos a abater. Mas talvez já não sejam o alvo principal. O grande favorito nas primárias republicanas aponta, desta vez, aos adversários internos. Longe vão os tempos em que se limitava à proposta quase inócua de “drenar o pântano” de Washington. A........

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