1. É quase inútil a discussão sobre se o Governo foi generoso ou ardiloso nas medidas de combate à inflação. Se podia ter ido mais longe ou se ficou demasiado distante. Se seria melhor baixar impostos em vez de atribuir subsídios. Na verdade, é possível encontrar argumentos válidos entre os que apoiam e os que rejeitam as opções de António Costa. Mas vale a pena alertar para o excessivo tribalismo partidário com que socialistas, por um lado, e as várias oposições, por outro, conduzem a discussão pública. A maioria dos portugueses vive dias de aperto, seguramente apreciariam mais pragmatismo e menos dogmatismo.
2. Goste-se ou não, o pacote de medidas do Governo está fechado (venha ou não a sofrer alguns ajustes). E é preciso discutir com urgência o que se segue. Lembrando que a crise é global, mas que se faz sentir de forma mais aguda na Europa. Por causa da grotesca invasão da Rússia à Ucrânia e das sanções económicas e financeiras que a decência impunha. E por causa da dependência energética europeia (não apenas face à Rússia) e da fatura extra que representa sempre que o Mundo sofre um abalo. A União Europeia só sairá desta crise se for capaz de encontrar medidas comuns e robustas, sem cedências ao autocrata de Moscovo.
3. É ainda nesta semana que ficaremos a saber se existe uma verdadeira União Europeia. Em cima da mesa dos 27 estão propostas que, a vingarem, representariam uma intervenção histórica na energia e um travão ao livre funcionamento dos mercados, como que colocando o capitalismo entre parêntesis. Na lista está a redução do impacto do preço do gás na eletricidade, mudando a fórmula de cálculo e retirando o gás da equação, ou impondo um preço-limite ao gás. Outra sugestão, com a qual se conseguiriam as receitas que ajudariam a baixar a fatura da energia das famílias e das empresas, é a criação de um imposto sobre os lucros excessivos dos produtores de energia e eletricidade que não usam o gás e estão a ganhar milhares de milhões, por causa da já referida fórmula de cálculo (que privilegia a fonte de energia mais cara). É isto que está em discussão na Europa. É isto que se devia estar a discutir em Portugal.
*Diretor-adjunto
Pôr o capitalismo entre parêntesis
1. É quase inútil a discussão sobre se o Governo foi generoso ou ardiloso nas medidas de combate à inflação. Se podia ter ido mais longe ou se ficou demasiado distante. Se seria melhor baixar impostos em vez de atribuir subsídios. Na verdade, é possível encontrar argumentos válidos entre os que apoiam e os que rejeitam as opções de António Costa. Mas vale a pena alertar para o excessivo tribalismo partidário com que socialistas, por um lado, e as várias oposições, por outro, conduzem a discussão pública. A maioria dos portugueses vive dias de........
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