Disse Marcelo Rebelo de Sousa na sua mensagem de Ano Novo: “Sabemos que o voto não é tudo. Mas, sem voto, não há nem liberdade, nem democracia”. Faria sempre parte das atribuições de um presidente da República o apelo à participação nas eleições. Mas, desta vez, a responsabilidade é acrescida. Foi Marcelo quem decidiu acrescentar, à demissão do primeiro-ministro, a dissolução da Assembleia da República e a antecipação das legislativas. Foi também ele quem, numa interpretação pessoal, marcou o ritmo logo no arranque da legislatura, afirmando que a maioria absoluta não era do PS, mas de António Costa, e que a saída do primeiro-ministro, fosse qual fosse o motivo, o levaria a “dar a palavra ao povo”.

Acrescentou o presidente, na mensagem aos portugueses, que este ano será “aquilo que os votantes, em democracia, quiserem”. É certo que ainda faltam dois meses para as eleições, e que o que o cenário que as sondagens agora detetam são apenas retratos do passado (recente, mas passado). Ainda assim, o que aparentemente os votantes querem pode bem resultar numa equação parlamentar de difícil solução. Uma maioria à Direita, mas com um PSD secundarizado e um Chega forte; e uma vitória do PS, mas sem maioria à Esquerda, fragmentada e com as suas diversas partes enfraquecidas.

“Desde 1974, entre nós, é o povo - e só o povo - quem mais ordena”, enfatizou Marcelo. Mesmo que o que daí resulte seja um Parlamento desordenado, não há de ser uma tragédia. Há sempre soluções, como se pode testemunhar um pouco por toda a Europa, que anda nisto da democracia parlamentar há mais anos do que nós. Ou porque se juntem numa coligação mais partidos do que aquilo a que estamos habituados. Ou porque se juntem partidos de blocos ideológicos diferentes. Ou porque se juntem os dois partidos centrais do sistema. É no dia seguinte que se fazem as contas. E é nessa altura que vai aparecer uma solução. Como concluiu Marcelo, “a democracia nunca tem medo de dar a palavra ao povo. E nisso se distingue da ditadura.”

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O povo é quem mais desordena?

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04.01.2024

Disse Marcelo Rebelo de Sousa na sua mensagem de Ano Novo: “Sabemos que o voto não é tudo. Mas, sem voto, não há nem liberdade, nem democracia”. Faria sempre parte das atribuições de um presidente da República o apelo à participação nas eleições. Mas, desta vez, a responsabilidade é acrescida. Foi Marcelo quem decidiu acrescentar, à demissão do primeiro-ministro, a dissolução da Assembleia da República e a antecipação das legislativas. Foi também ele quem, numa interpretação pessoal, marcou........

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