Se Lula da Silva ganhar, como tudo indica, as eleições presidenciais brasileiras, talvez o momento não seja para celebrar a sua vitória, mas a derrota de Jair Bolsonaro. Por estes dias, os média apelam ao voto útil, argumentando que é imperioso tirar o "Trump tropical" do Planalto. A bem da sobrevivência da democracia. Pena que, nos últimos anos, o Brasil não tivesse sido capaz de criar uma alternativa forte ao atual presidente.
É muito difícil Lula da Silva ser eleito na primeira volta. Desde a redemocratização do país, só Fernando Henrique Cardoso conseguiu isso. Por duas vezes: em 1994 e 1998. Mesmo somando uma expressiva popularidade, Lula não repetiu tal proeza em 2006. Agora, as sondagens dizem que, se tal acontecer, será à tangente. No entanto, a vitória do candidato do PT parece assegurada à segunda volta.
Num contexto de polarização e de enorme alvoroço, ninguém sabe como Bolsonaro reagirá aos resultados. Os média antecipam uma resposta violenta. Recentemente, o jornal "The New York Times" assegurava que o atual presidente mobilizaria os seus apoiantes com vista a uma insurreição popular em larga escala. O que Bolsonaro quer é uma revolução, titulava ontem a revista "Courrier International", replicando o artigo norte-americano.
Outra grande incógnita recai na forma como Lula da Silva cumprirá um terceiro mandato. Em campanha eleitoral, não se falou muito sobre políticas financeiras e económicas. Todavia, é preciso ter em conta que o país está muito longe daquele que Lula encontrou em anteriores mandatos. Hoje, o Brasil tem um desemprego galopante, uma pobreza extrema que se alarga velozmente e uma classe média com uma contínua perda de rendimentos. Desconhece-se se o candidato do PT adotará a via pragmática do primeiro mandato ou um intervencionismo mais ideológico do segundo mandato. Sabe-se apenas que quer posicionar-se ao centro. Sinal disso foi a escolha de Geraldo Alckmin, do PSB, para vice-presidente. A revista "Isto é" noticiou esta semana que aquele que foi em tempos um reconhecido governador do Estado de S. Paulo está concentrado em setores mais refratários a Lula, promovendo diariamente vários encontros a sós com empresários de setores diversos.
Atacado por um Bolsonaro que não se cansa de lembrar o passado recente na prisão do candidato do PT, Lula da Silva vai beneficiando de uma opinião pública que pensa que, perante candidatos que roubam, é preferível escolher aqueles que beneficiam também os pobres àqueles que favorecem sempre os mais ricos. A votação de domingo não apaziguará este registo agreste.
Prof. associada com agregação da UMinho
Brasil, as eleições do desespero
Se Lula da Silva ganhar, como tudo indica, as eleições presidenciais brasileiras, talvez o momento não seja para celebrar a sua vitória, mas a derrota de Jair Bolsonaro. Por estes dias, os média apelam ao voto útil, argumentando que é imperioso tirar o "Trump tropical" do Planalto. A bem da sobrevivência da democracia. Pena que, nos últimos anos, o Brasil não tivesse sido capaz de criar uma alternativa forte ao atual presidente.
É muito difícil Lula da Silva ser eleito na primeira volta. Desde a redemocratização do país, só Fernando Henrique Cardoso conseguiu isso. Por duas vezes: em 1994 e 1998. Mesmo somando uma expressiva popularidade,........
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