Cidadãos prescritos e certificados com IGP e DOC
Na sociedade NBIC – nanotecnologia, biotecnologia, informática e ciências cognitivas – e no reino das plataformas e aplicações, nós, os cidadãos da era digital, viveremos uma espécie de servidão voluntária, cidadãos prescritos e certificados, com indicação geográfica de proveniência (IGP) e denominação de origem controlada (DOC). Na sua grande maioria seremos cidadãos bem-comportados, com um baixo risco moral e, portanto, um baixo custo orçamental no que diz respeito à socialização de efeitos negativos por parte do contribuinte. É simples, basta apenas cumprir as normas e as regras em vigor, descarregar as apps apropriadas e correspondentes a um padrão prescritivo ditado pelo normativismo político-institucional dominante. Seremos, pois, cidadãos confirmados e validados, cidadãos praticamente sem imperfeições humanas.
Nesta sociedade da era digital os dados são o recurso mais precioso. Tudo será inteligente à maneira digital: a casa, o carro, a empresa, o escritório, a escola, a estrada, o hospital, o banco, o serviço público, etc. Tudo adquire vida própria, o real é virtual e o virtual é real, e tudo debita informação a todo o tempo. Este é o futuro radioso prometido pela ciência dos dados, nos seus três momentos, a descrição, a predição e a prescrição. Mais dados, sempre mais dados, e estaremos cada mais próximos da verdade, nesse grande bazar dos processadores de dados, o universo dos algoritmos e dos meta-algoritmos, e no grande terminal que é o nosso smartphone de última geração.
Nesta sociedade da era digital a grande ambição da ciência dos dados, o racional do big data, é encontrar uma norma-padrão de comportamento e, a partir daí, prevenir contra a incerteza e o desvio que a nossa irracionalidade biológica........
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