Nada se compara ao terror de viver sob o domínio de uma facção |
Reproduzo aqui a carta que recebi de Clarice, leitora dos meus livros. Por razões que ficarão evidentes, esse não é seu nome real. Além de mudar o nome, retirei do texto qualquer elemento que permitisse a identificação da autora.
É Clarice quem fala agora.
Caro Roberto,
Tento me afastar de temas polêmicos e manter o tom positivo nas minhas redes sociais. Mas não consigo me calar por muito tempo, principalmente diante do que tenho visto e do que já vivi. Preciso contar minha história.
Fui moradora de uma comunidade (esse é o termo que a mídia usa para se referir a favelas) até casar e mudar para uma linda cidade da serra fluminense. Essas são minhas memórias de infância e adolescência, vividas em uma pequena favela do Rio de Janeiro – infelizmente, não tão pequena a ponto de escapar do domínio do crime organizado. Lembro de voltar da escola ou da igreja sofrendo crises de ansiedade, pela possibilidade de encontrar com uma vítima da sociedade armada de fuzil na esquina, ou até na porta de casa. Sofria do medo permanente de me encontrar em meio a uma troca de tiros – um fato corriqueiro naquele........