“Brasil está em nível 9 de 10 na escala de venezuelização”, diz Ernesto Araújo

Ex-ministro das Relações Exteriores do governo Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo esteve à frente do Itamaraty entre 2019 e 2021, período marcado pelo enfrentamento diplomático ao regime de Nicolás Maduro, pela reaproximação com os Estados Unidos e por duras críticas ao Foro de São Paulo. Nesta entrevista exclusiva, ele analisa os bastidores das recentes negociações envolvendo Lula, Donald Trump e o ministro Alexandre de Moraes, comenta a retirada de sanções baseadas na Lei Magnitsky, avalia o cenário venezuelano e faz um diagnóstico sobre o estado da democracia brasileira.

Entrelinhas: Muitos dizem que o Brasil “venezuelou”. Numa escala Venezuela, onde estaria o Brasil?

Ernesto Araújo: Eu diria que estamos numa posição 9 de 10. Bastante perto. Ainda existe uma folha de parreira escondendo a nudez da ditadura brasileira, mas não existem mais instituições independentes. Todas fazem parte da mesma estrutura de poder. Não há imprensa independente de grande alcance. O estado prerrogativo faz o que quer. É o mesmo modelo venezuelano.

Entrelinhas: Entăo o senhor acredita que o Brasil pode se tornar a maior ditadura da região?

Ernesto Araújo: Sim. Talvez o único país claramente ditatorial da América Latina, em breve. Enquanto outros países avançam, o Brasil regride.

Entrelinhas: O senhor enfrentou críticas quando denunciou a ditadura venezuelana como chanceler. O mundo mudou?

Ernesto Araújo: Mudou, e muito. Essa mudança começa com a eleição do Trump. Desde 2019 nós afirmamos que o Maduro é chefe de uma organização criminosa. Fomos os primeiros a não reconhecer a eleição fraudulenta de 2018. Isso criou a base política e diplomática para o que está acontecendo agora. Plantamos sementes.

Entrelinhas: O senhor se orgulha dessa........

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