O que não lhe contaram sobre a proibição da vigília pró-Bolsonaro pelo arcebispo de Curitiba

Pelo jeito, foi providencial que eu tivesse escrito a coluna da semana passada, sobre como as pessoas incentivam a hostilidade às autoridades da Igreja usando a internet, horas antes de estourar o caso de uma vigília de oração pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, programada para ocorrer na noite de terça-feira passada, e que foi barrada pelo arcebispo de Curitiba, dom José Antônio Peruzzo. Afinal, muitas das estratégias que eu comentei semana passada (e acabamos de descobrir que o Dicionário Oxford escolheu “rage bait” como palavra do ano – justamente o comportamento de caçar cliques provocando indignação) acabaram sendo empregadas por quem fez a repercussão do episódio, para fazer – de forma muito injusta – a caveira do padre Octavio Vaz, de dom Peruzzo e até da CNBB, que não tinha nada a ver com a história.

Como tudo se desenrolou nós sabemos: na tarde do dia 24, segunda-feira, a jornalista Cristina Graeml fez uma convocação pelas mídias sociais para uma vigília “pela saúde, por liberdade e justiça para o presidente Bolsonaro e para todos os milhares de presos e exilados políticos do Brasil e por suas famílias, pelo Congresso Nacional e por anistia já”. Poucas horas depois, ainda na noite de segunda-feira, dom Peruzzo vetou o evento, avisando a todo o clero da arquidiocese que esse tipo de manifestação estaria proibido. Ainda assim, o povo apareceu lá na noite seguinte; o padre Octavio (que foi procurado pela coluna, mas achou melhor não comentar o caso) informou as pessoas sobre a proibição – uma coisa que não consegui descobrir ainda é se os fiéis foram à igreja estando cientes da decisão do arcebispo, ou se ficaram sabendo apenas quando já estavam lá –, e o povo rezou do lado de fora da igreja.

O que o seu comentarista bolsonarista favorito não vai lhe dizer é que oito anos atrás o arcebispo de Curitiba teve a mesmíssima atitude, mas direcionada aos petistas. Em maio de 2017, Lula era investigado na Lava Jato e tinha depoimento marcado ao então juiz Sergio Moro. “O grupo político-partidário de Lula pretendeu realizar, nas dependências da catedral, uma vigília em favor da ‘justiça e do futuro do país’. Mas tudo fora muito mal explicado (talvez intencionalmente). Seria à noite, em torno das 20 horas”, afirmou dom Peruzzo à coluna, por escrito. “Ao perceber que tudo teria um formato partidário, ainda que em linguagem religiosa, desautorizei o uso das dependências daquele templo”, acrescentou.

Em resumo, o critério aplicado naquela ocasião foi usado novamente este ano. “Tudo se aproximava de feitio semelhante também agora, na igreja São Francisco de Paula: organizado e promovido por uma candidata recente, com inequívocas expressões e linguagem político-partidária; a vigília seria em favor de um líder,........

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