“Logo vemos.” Foi assim que o atual líder do PSD e da AD respondeu à eventual participação de Pedro Passos Coelho nalguma fase da campanha ontem de manhã no debate das rádios. Contrariamente a Pedro Nuno Santos que, além da confirmação, mostrou-se mais do que satisfeito com a presença de António Costa na do PS, Montenegro foi estranhamente lacónico neste tema e surpreendeu na dúvida e no tom que não se importou de deixar para quem o ouvia e seguia em debate.

Visto à distância e com a lupa em dezembro, percebe-se bem esta relutância e o afastamento definitivo de Montenegro em relação a Passos Coelho. Nessa mesma data de 19 de dezembro, para grande irritação dos eternos passistas ou ex-passistas, tive oportunidade de dizer em antena que o ex-primeiro-ministro à porta daquele tribunal tinha ‘jogado’ como ponta-de-lança do Chega. Ao abordar o tema da segurança naqueles termos e sendo Portugal um dos países mais seguros do mundo, Passos Coelho ia atrás da narrativa da extrema-direita por essa Europa fora, adaptava-a, descontextualizando-a, e ignorava a realidade.

Um dia depois das suas declarações, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), reforçava nas suas plataformas que Portugal em 2023, comparativamente a 2022, tinha subido de 8.º para 7.º país mais seguro do mundo, segundo a Global Peace Index (GPI) e com a análise de todos os indicadores que interessam.

A partir daqui, da força que esta ala passita tem no PSD, custa-me muito a acreditar que a resposta de Montenegro ao fim da manhã nas rádios tenha sido pouco genuína e que a partir da sua frontalidade, não lhe tenham mesmo imposto nesse mesmo dia o Passos em campanha.

Assim foi e contrariamente a ter existido ontem um pequeno espaço que seja no discurso de Pedro Passos Coelho para uma critica ao ódio que o Chega gera na sociedade, às mentiras que martela, às contradições políticas, ao descalabro económico das suas medidas ou até a uma ´piadinha’ do “rater,” o antigo primeiro-ministro voltou ao reforço das bandeiras da extrema-direita da mesma forma estapafúrdia que André Ventura as apresenta. Falou de bicho papões, mas acenou com outros e usou o maior deles todos: a imigração, colando a “insegurança.” Pois, é. Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar: as falsas narrativas e perceções matam hoje.

Depois de todo este trajeto, alguém ainda acredita mesmo que é por trasladar com igual falsidade as bandeiras da extrema-direita que o segundo nome mais referenciado no Congresso do Chega as esvazia? Ou que ele sequer quer isso? Da “vitória natural” e quase fácil com que Passos pressionou Luís Montenegro ontem, decretou-se ali para qualquer bom entendedor o cenário que já “cansa” a tantos, mas que pesará depois do dia 10 de março.

A única coisa a aproveitar daquele discurso foi mesmo o país livre e os portugueses a pensar pela sua própria cabeça. Seria bom que todos os bajuladores ou ex-bajuladores deste político mediano começassem a fazê-lo. O contrário é servir o Chega como ele.

Afinal de contas, não é desde o dia de ontem que Passos serve mais o Chega e atrapalha a linha centrista do PSD.

QOSHE - A quem serve Pedro Passos Coelho? - Gonçalo Ribeiro Telles
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A quem serve Pedro Passos Coelho?

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27.02.2024

“Logo vemos.” Foi assim que o atual líder do PSD e da AD respondeu à eventual participação de Pedro Passos Coelho nalguma fase da campanha ontem de manhã no debate das rádios. Contrariamente a Pedro Nuno Santos que, além da confirmação, mostrou-se mais do que satisfeito com a presença de António Costa na do PS, Montenegro foi estranhamente lacónico neste tema e surpreendeu na dúvida e no tom que não se importou de deixar para quem o ouvia e seguia em debate.

Visto à distância e com a lupa em dezembro, percebe-se bem esta relutância e o afastamento definitivo de Montenegro em relação a Passos Coelho. Nessa mesma data de 19 de dezembro, para grande irritação dos eternos passistas ou ex-passistas, tive oportunidade de dizer em antena que o ex-primeiro-ministro à porta........

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