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Quem defende a criança gorda?

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11.10.2024

"A criança gorda que é impedida de brincar na escola, que é levada compulsoriamente a consultórios médicos"

Eu tinha quatro anos na tarde que descobri que era gorda. Ali, no pátio da escola, ridicularizada, apontada e impedida de brincar com outras crianças - pelas próprias crianças - eu me encolhi, tentando caber numa expectativa que eu sequer sabia que existia. Até aquele dia, eu era uma criança alegre, divertida e que gostava de estar no meio das outras crianças. Desde então, passei a me esconder, a tentar tapar minha calcinha que teimava em aparecer embaixo da saia vermelha de pregas do uniforme e a ser menor.

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Em casa, passei a questionar meus pais: por que eu sou gorda? E, na vida, a questionar Deus: por que as outras crianças são menores, podem brincar e se divertir e eu não? Sempre imaginei que havia feito algo muito grave, no auge dos meus quatro anos de vida, para ser punida desta forma.

A única política pública para as pessoas gordas, atualmente, é o emagrecimento. De todo investimento feito no setor, nenhum é pensando em acolhimento, em tratamento, em saúde física e mental, mas em fazê-las caber compulsoriamente.

O filósofo Paul Preciado tem um texto-hit onde questiona: quem defende a criança queer?. Caberia aqui uma questão ainda maior, com perdão do trocadilho: quem defende a criança gorda?

A criança gorda que é impedida de brincar na escola, que é levada compulsoriamente a consultórios médicos, apertada, apalpada, cutucada e enfiada em dietas aos sete anos, que é impedida de comer doces, guloseimas. Que é forçada em caber em roupas que não foram feitas para o seu corpo. Que aos 10 anos tem que se vestir como uma senhora de 87 anos, porque tudo que cabe no corpo dela é uma blusa com estampa floral numa loja de avós já que não importa quanto tempo passe, não se há interesse em fabricar roupas de tamanho grande que sejam descoladas e estilosas.

A criança gorda que ouve, o tempo todo, que se não emagrecer, não será amada. A criança gorda que só quer um abraço, mas recebe olhares de nojo e rechaço porque ousa, mesmo sem saber o que isso significa, desafiar a normatividade dos corpos magros. A criança gorda que é lida como doente, mas tratada como criminosa, como se, ser/estar gorda fosse culpa dela.

Quem acolhe a criança gorda? Quem diz à ela que tudo bem ela ter o corpo que ela tem e que isso não é sobre ela, mas sobre diversidade? Quem alimenta a criança gorda com alimentos nutritivos, saudáveis e preparados com amor? Quem defende o direito da criança gorda ser uma criança? Quem defende que ela........

© Estado de Minas


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