Opinião | Cristianismo cultural e a bancada cristã

Com 398 votos, a Câmara dos Deputados aprovou em outubro a urgência para a criação da bancada cristã. A justificativa repousa sobre o argumento de que o Brasil é “uma nação de maioria cristã”, citando o último censo.

A iniciativa, requerida pelos presidentes das frentes católica e evangélica, se aprovada, dará à bancada assento no colégio de líderes e tempo de fala nas sessões. Uma voz oficial no coração do Estado. Será, assim, a formalização de um fenômeno que estudiosos vêm mapeando há anos: o cristianismo cultural.

Trata-se de conceito acadêmico. Autores como Tobias Cremer, Anja Hennig e Oliver Hidalgo mostram que o cristianismo cultural funciona, em contextos europeus e nos EUA, como uma identidade majoritária acionada em disputas políticas contemporâneas, notadamente em contraste com populações muçulmanas, frequentemente apresentadas como uma ameaça ao chamado Ocidente.

De acordo com esses estudos, referências ao cristianismo deixam de se restringir à esfera religiosa e passam a operar como baliza de posições conservadoras, definem fronteiras simbólicas e sustentam ideias de ordem moral consideradas fundamentais para a nação.

No Brasil, Ronaldo de Almeida, Paula Bortolin e João Moura analisam fenômenos próximos ao descreverem como diferentes segmentos cristãos conservadores........

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